FÁBULA DO AGRICULTOR
Dois agricultores em estado de
desespero: - um resolveu cavar a terra, plantar e produzir, outro decidiu
esperar que os benefícios o viessem ajudar. No final, o que produziu colheu
enquanto o outro continuou à espera dos subsídios e, como tinha fome, pediu ao
que produziu que lhe desse de comer, ao que o outro anuiu, num gesto solidário.
Esta fábula li-a há muito tempo
na minha infância, não sei onde, mas ficou-me gravada na memória e adapta-se ao
momento presente.
Com a adesão à C.E.E. (atual
U.E.) muita gente pensou que depois do fim do Império (que nunca chegou a ser)
tinhamos encontrado a galinha dos ovos de ouro que nos manteria a desfrutar as
delícias do belo clima que temos, sem fazer «patavina». Passados 27 anos da
adesão ao «clube dos ricos», essa mesma gente continua a pensar da mesma forma
e a exigir dos que trabalharam que os sustentem e lhes matem a fome.
A solidariedade tem limites, e os
países que foram emprestando dinheiro para nós desbaratarmos terminou. Também
eles estão a esgotar o celeiro e, com receio de passar fome, já não emprestam
de qualquer maneira, exigem garantias para o empréstimo. As garantias são as
que qualquer hipotecário exige como retrocesso da quantia emprestada.
Temos que poupar mais e gastar
menos para liquidar o empréstimo se queremos a restituição do bem hipotecado –
o país.
As condições contratuais foram
estabelecidas com exigência e rigor pelos que emprestaram. Aqui pode-se
questionar se foram as melhores condições, foram as possíveis, não estavamos em
condições de exigir mas de aceitar.
Passado quase um ano deste
acontecimento, que marcará indelevelmente a história do nosso país, ainda há
pessoas que em vez de produzir, pelo menos para comer (aceitarem o que o
mercado de trabalho tem para oferecer), ainda estão à espera dos subsídios e da
solidariedade daqueles que produzem.
Fala-se em revolta, contesta-se
por que não há emprego (é um facto), mas será que aqueles que deitaram as
sementes à terra, produziram e por fim se viram expoliados dos seus rendimentos
em nome da solidariedade, também não teem direito à contestação, à revolta?
Com tanta fome e tanta falta de
emprego, existe muito trabalho para fazer, é preciso que cada um se
capacite que o maná não cai do céu, mas
do trabalho que cada um produz e não do que consome, como parece que alguns
preconizam.
Viana do Castelo, 2012-08-15
Manuel de Oliveira Martins
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