sábado, 26 de abril de 2014

CONSUMISMO
A velocidade de rotação da terra cifra-se em cerca de 1.666 Km/hora e a de translação em 30 Km/segundo. Uma enormidade! Se não fosse a força da gravidade que nos atrai para o centro, seríamos disparados em órbita, como meteoritos da terra em decomposição.
Tal como no efeito geofísico parece que na vida real estamos a viver a uma velocidade astronómica que não conseguimos controlar, nem temos tempo de nos apear para pensar e analisar os efeitos perversos que ela está gerando em cada um de nós e consequentemente no mundo em que vivemos.
Recuando no tempo 50 anos, tenho memória de como se vivia e analiso a evolução verificada até aos dias de hoje. A economia, para colmatar deficiências e tentar resolver problemas, criou um monstro com uma dimensão tão grande que só uma «bomba atómica» pode destruir.
Quem como eu, nasceu por meados do século passado, por certo se lembrará do valor que era dado aos objetos de uso corrente, à forma como eram adquiridos, utilizados e estimados. Os mesmos objetos, nos dias de hoje têm um tratamento diametralmente oposto aquele outro. Dou como exemplo um par de sapatos que naquele tempo não era acessível a todos e, os privilegiados, utilizavam-nos em ocasiões e momentos especiais, com cuidado para não os estragarem e durarem, por que não havia dinheiro para comprar outros ou, mesmo que houvesse, existia um sentido de poupança incutido na educação e formação de cada um.
À primeira leitura poderá parecer que estou a fazer a apologia desses tempos, para nós portugueses de má memória, pelas circunstâncias específicas em que vivíamos. O que eu pretendo alertar é para o consumismo desenfreado, a uma velocidade estonteante, em que os sistemas economicistas colocaram o mundo, para além da velocidade cósmica.
O mundo está refém da economia cega e desregrada, nas mãos de um punhado de agiotas que só visam o lucro a troco de empréstimos incomportáveis para a sociedade. A humanidade tem de acordar e trabalhar no sentido de construir a «bomba atómica» que destrua este sistema injusto e deshumano que só privilegia alguns.
Cada um de nós é uma partícula dessa «bomba». Através da forma como agimos em sociedade, podemos com a nossa energia, comportamento, atitude e querer, construir uma sociedade mais justa  e equitativa. É  congregando ideias, vontades, ações, duma forma ordenada, planificada e sustentável que se consegue progredir e construir essa sociedade que beneficie todos e não só alguns. Um bolo precisa da união dos elementos que o constituem para se formar e tornar comestível. Se não se juntar a farinha com os ovos e demais ingredientes não haverá bolo.
As crises, ao longo dos séculos, serviram para regenerar a sociedade, unindo-a em torno de objetivos comuns. Façamos desta crise o veículo para crescermos, espiritual, cultural e humanamente, só assim poderemos almejar uma sociedade mais estável e sustentável em termos económicos, sem necessidade de recorrer ao poder do agiotismo, por que desta forma ele será destruído.
É abdicando de privilégios, tantas vezes desajustados e sem sentido, que podemos ajudar os que menos têm, ensinando-os e educando-os, para a fruição das coisas que o planeta Terra nos disponibiliza, para bem de todos, duma forma ponderada e sustentada para que possa ser duradoura.
O ambiente, é um bem que cabe a cada um gerir e preservar, denunciando quem abusar da sua utilização danosamente. Os recursos naturais, que são propriedade de todos nós, devem ser utilizados consoante as necessidades quotidianas e não desmesuradamente visando obter lucros que só servem a alguns. Estes são alguns dos muitos exemplos que devemos seguir para tornar este mundo melhor.
Cada ser humano deve respeitar-se e respeitar os outros para ser respeitado. Se assim procedermos diáriamente, na convivência de uns com os outros, estaremos a acrescentar força à «bomba atómica» que é necessário construir para abater o inimigo que atualmente domina o mundo.
Viana do Castelo, 2013-11-01
Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com