sexta-feira, 7 de agosto de 2015

VIOLÊNCIA


Todos os dias somos confrontados nos meios de comunicação com notícias de violência desmedida e injustificada, com origem, muitas vezes, em razões fúteis, que degeneram em agressão e/ou em morte.
Este surto de violência tem vindo a aumentar nos últimos tempos, é preocupante e merece das autoridades uma atenção redobrada e um inquérito às causas que estão na sua origem.
Sempre ouvi dizer que se deve exterminar o mal pela raiz, expressão com a qual concordo plenamente. Não se deve negligenciar os princípios básicos que regem a sociedade sob pena de se perder o controlo dessa mesma sociedade.
A educação está na base de tudo o que se é na vida. Nela reside a essência da sociedade que construímos. A educação não suporta negligência e tolerância, antes pelo contrário, exige disciplina e rigor que é muito diferente de prepotência e brutalidade.
É no «berço» que se criam e perpetuam para a vida os bons hábitos, que a escola deve complementar, e corrigir nos casos desviantes de conduta atípica motivados pela falta de carinho, atenção e amor, que não foram ministrados no «berço».
Os casos de violência que têm vindo a lume revelam que a sociedade está enferma e precisa urgentemente de ser tratada dos males que padece.
A polícia, entidade do Estado de direito, tem como missão principal garantir a segurança de pessoas e bens.
Não querendo fazer julgamentos prévios ao oficial de polícia que foi protagonista dos inqualificáveis incidentes ocorridos no dia 17 de maio, no final do jogo entre o Guimarães e o Benfica (penúltimo jogo da 1.ª liga de futebol) que terminou com um empate a zero, nem tão pouco classificar a Instituição de Polícia por este ato tresloucado de um dos seus agentes, não posso deixar de mais uma vez apelar ao legislador para rever as regras de admissão e progressão dos agentes de autoridade, submetendo-os a exames psicotécnicos imprescindíveis para o exercício da profissão que envolve o contacto com seres humanos possuidores dos mais díspares carateres  e personalidades.
Os órgãos de comunicação social, céleres em dar a notícia em primeira mão para captar audiências, também precisam de aprender e ponderar, quando e como, devem dar a notícia para evitar o despoletar de situações como as que se viveram no Marquês de Pombal. É preciso ter consciência do acendimento do rastilho, para evitar situações desagradáveis como aquelas que se viveram na noite dos festejos do título na zona do Marquês de Pombal, que podiam ter sido muito mais graves.
Outro caso que se prende com a violência e que merece também muita atenção da parte do legislador, é o caso do sargento com baixa psiquiátrica, que possuía um arsenal de 30 armas das quais 29 estavam legalizadas, a única que não estava foi a que originou o crime que vitimou o gerente da pastelaria de Benfica. Um militar perfeitamente identificado e com cadastro, com baixa psiquiátrica, não pode andar à solta nem ter acesso a uma arma muito menos a trinta.
Somos aquilo que criamos, para o bem ou para o mal. Não basta ter pão é preciso ter educação, ferramenta primordial em toda a estrutura do ser humano enquanto membro de uma sociedade sadia e culturalmente evoluída.

Viana do Castelo, 2015-05-20
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com
Publicado no jornal «A Aurora do Lima» n.º 24 em 2015-06-18



terça-feira, 9 de junho de 2015

DEPRESSÕES


Vivemos numa época propícia à aquisição desta doença, que afeta os mais sensíveis, cuja vulnerabilidade psicológica não consegue suplantar-se aos cometimentos stressantes a que diariamente somos submetidos na nossa vida.
Contrariamente ao que deveria ser exigido aos candidatos a determinadas profissões, pilotos, condutores de transportes públicos, maquinistas de comboios e outros, que envolvem responsabilidades sobre seres humanos, nada é exigido sobre a condição psicotécnica do concorrente.
Para além do exame inicial de admissão à profissão é curial que anualmente o profissional seja submetido a um teste de saúde física (que alguns serviços aconselham), mas também psicológica ( que raramente é exigido).
Quando me candidatei ao exame de admissão para ingresso no Curso Elementar de Pilotagem na Escola Náutica (já lá vão 48 anos), fui submetido a três tipos de testes: 1 – Teste físico rigoroso feito por 5 médicos especialistas. Devíamos ir munidos de uma microrradiografia e uma declaração passada pelo Delegado de Saúde em como não sofríamos de qualquer doença infetocontagiosa. Este exame eliminou mais de metade dos candidatos; 2 – Um teste psicotécnico (tipo americano) que fez uma razia eliminando outra metade e, só por último, os restantes candidatos apurados nas duas eliminatórias foram sujeitos aos testes das disciplinas nucleares de matemática e física, no caso específico de Pilotagem. No final, dos 812 que iniciaram o concurso, para os quatro cursos então ministrados na Escola Náutica (Pilotagem, Máquinas Marítimas, Radiotecnia e Comissariado) foram apurados apenas 161, cerca de 20%.
Desde 1975 que as admissões para a Escola Náutica passaram a dispensar os dois primeiros testes, limitando-se ao exame das disciplinas nucleares de cada curso.
Apesar do decréscimo da Marinha Mercante (Comércio e Pesca) e especificamente não existirem paquetes (transporte de passageiros), a especificidade da profissão, que se desenrola num meio hostil como é o mar, sujeito às mais imponderáveis situações depressivas, defendo que os profissionais desta e doutras áreas, sujeitas a pressões constantes, devem ser submetidos a exames prévios de ingresso e periódicos ao longo da vida, para avaliar o estado físico e psicológico e não só a submissão a testes curriculares necessários para singrar na profissão.
Há fatores que modificam a nossa saúde e o nosso comportamento físico e psicológico ao longo da vida e que precisam ser detetados para tratamento. Recordo que no ano de 1972, desempenhava então as funções de oficial imediato de um navio de pesca, o «Tropical», que habitualmente fazia base na inesquecível cidade de Moçâmedes, numa das idas para descarregar pescada para os frigoríficos da ARAN (Associação dos Armadores de Pesca de Angola), que depois era transportada para a metrópole pelos navios frigoríficos «Transfrio» e «Baía de São Brás», da CNN (Companhia Nacional de Navegação), o Chefe de Máquinas dum outro navio de pesca, meu colega de curso e amigo, desabafou comigo que teve de desembarcar o 2.º Maquinista, devido ao comportamento dele na casa das máquinas não garantir a segurança da mesma, consequentemente do navio. O comportamento anormal do 2.º Maquinista devia-se ao estado alucinogénio provocado pelo consumo de canábis que foi encontrada no camarote do infeliz oficial maquinista. Foi mandado para a Metrópole para tratamento.
A tragédia que sucedeu recentemente com o avião da Germanwings deve ser um alerta para as autoridades aeronáuticas. Os governantes, a nível mundial, devem encontrar consensos no sentido de garantirem a segurança dos passageiros, sob pena da descredibilização do transporte aéreo. Em situação alguma o fator económico se pode sobrepor ao fator segurança, como em algumas situações se subentende que existiu alguma tentação para negligenciar.
Viana do Castelo, 27 de março de 2015

Manuel de Oliveira Martins
Publicado no jornal «A Aurora do Lima» n.º 15 em 2015-04-16