segunda-feira, 17 de setembro de 2012


FÁBULA DO AGRICULTOR

Dois agricultores em estado de desespero: - um resolveu cavar a terra, plantar e produzir, outro decidiu esperar que os benefícios o viessem ajudar. No final, o que produziu colheu enquanto o outro continuou à espera dos subsídios e, como tinha fome, pediu ao que produziu que lhe desse de comer, ao que o outro anuiu, num gesto solidário.
Esta fábula li-a há muito tempo na minha infância, não sei onde, mas ficou-me gravada na memória e adapta-se ao momento presente.
Com a adesão à C.E.E. (atual U.E.) muita gente pensou que depois do fim do Império (que nunca chegou a ser) tinhamos encontrado a galinha dos ovos de ouro que nos manteria a desfrutar as delícias do belo clima que temos, sem fazer «patavina». Passados 27 anos da adesão ao «clube dos ricos», essa mesma gente continua a pensar da mesma forma e a exigir dos que trabalharam que os sustentem e lhes matem a fome.
A solidariedade tem limites, e os países que foram emprestando dinheiro para nós desbaratarmos terminou. Também eles estão a esgotar o celeiro e, com receio de passar fome, já não emprestam de qualquer maneira, exigem garantias para o empréstimo. As garantias são as que qualquer hipotecário exige como retrocesso da quantia emprestada.
Temos que poupar mais e gastar menos para liquidar o empréstimo se queremos a restituição do bem hipotecado – o país.
As condições contratuais foram estabelecidas com exigência e rigor pelos que emprestaram. Aqui pode-se questionar se foram as melhores condições, foram as possíveis, não estavamos em condições de exigir mas de aceitar.
Passado quase um ano deste acontecimento, que marcará indelevelmente a história do nosso país, ainda há pessoas que em vez de produzir, pelo menos para comer (aceitarem o que o mercado de trabalho tem para oferecer), ainda estão à espera dos subsídios e da solidariedade daqueles que produzem.
Fala-se em revolta, contesta-se por que não há emprego (é um facto), mas será que aqueles que deitaram as sementes à terra, produziram e por fim se viram expoliados dos seus rendimentos em nome da solidariedade, também não teem direito à contestação, à revolta?
Com tanta fome e tanta falta de emprego, existe muito trabalho para fazer, é preciso que cada um se capacite  que o maná não cai do céu, mas do trabalho que cada um produz e não do que consome, como parece que alguns preconizam.
Viana do Castelo, 2012-08-15
Manuel de Oliveira Martins

sábado, 15 de setembro de 2012


EM NOME DA LIBERDADE
Por tudo e por nada se invoca a liberdade. Em nome dela se cometem as mais diversas atrocidades e se destroem as mais elementares formas que a constituem.
Só quando se perde a liberdade é que se lhe dá verdadeiro valor. Aqueles que se veem privados dela, estimam-na e preservam-na com denodo e admiração, os outros normalmente usam-na como um bem inesgotável.
É necessário praticarmos a liberdade em todos os atos da nossa vida, dessa forma estamos a cimentar os alicerces desse grandioso edifício que se chama liberdade e que o povo Americano simbolizou com uma estátua à entrada da baía de Hudson.
Miguel Sousa Tavares disse numa entrevista à Notícias Magazine em 13 de maio de 2012 (n.º 1042), [a liberdade] “não se compra nem sai no euromilhões, demora uma vida a conseguir”. É de pequenino, nos mais singelos atos que praticamos, que se começa a construir esse grande edifício. Os pais, professores e sociedade em que vivemos, têm um papel importante na formação desse conceito que à medida que crescemos se vai tornando real e ao mesmo tempo intuitivo.
O mesmo entrevistado dizia ainda que “ os portugueses já perceberam que têm de mudar de vida, mas ainda não entenderam o que correu mal”. Eu digo ao contrário: os portugueses já descobriram o que correu mal, mas, como a avestruz, ainda não entenderam que têm de mudar de vida.
Todos já percebemos que gastamos acima das nossas posses, que nos deixamos levar pelo consumismo, veja-se o aumento anormal da produção de lixo, como indicador do consumo - além de outros - para termos uma ideia geral do despesismo que grassa na sociedade.
Usa-se e deita-se fora, alimentando uma economia fácil e sem consistência que nos leva ao abismo.
Um exemplo concreto desse fenómeno, é o caso dos telemóveis que invadiu a sociedade portuguesa duma forma galopante, a ponto da média por pessoa ter chegado a ultrapassar a unidade.
 Como este, muitos outros exemplos poderiam ser apontados, mas o que tarda a acontecer, embora já se verifiquem pequenos índices de restrição ao consumo, é a mudança de hábitos que em nome da liberdade se foram adquirindo, inconsistentemente.
Viana do Castelo, 2012-08-20
Manuel de Oliveira Martins

terça-feira, 11 de setembro de 2012


ABSENTISMO/ PRODUTIVIDADE

A relação entre estas duas variáveis económicas, está diretamente ligada ao estado atual do país.
A libertação do jugo pesado que amordaçou o povo durante 48 longos anos, despoletou uma onda incontrolada de «libertinagem» (no bom sentido) que nenhum governo soube ou teve a coragem de enfrentar e disciplinar, no interesse do país, que o mesmo é dizer, no interesse de todos.
Todos os que já eram adultos (à época), assistiram ou tomaram parte ativa nos processos revolucionários pós o 25 de Abril de 1974 (em que o poder quase ia caindo na rua), sabem como era antes e como foi depois.
Um prenúncio desse clima de instabilidade, tive-o no  próprio dia da revolução e nos dias que se lhe seguiram. O navio «São Jorge», um dos últimos bacalhoeiros da pesca à linha, tinha saído de Lisboa no dia 22 de Abrilde 1974. O 25 de abril deu-se quando navegávamos no canal de São Jorge, entre as ilhas açoreanas de São Jorge e as do Pico e Faial. A euforia, a alegria, o entusiasmo, invadiu toda a tripulação logo que o capitão deu a Boa Nova, regozijando-se com tal acontecimento, que há muito era desejado.
Daí em diante o capitão não mais teve mão da tripulação que anárquicamente punha e dispunha. Faltaram ao serviço de vigia, assaltaram o paiol dos mantimentos e negaram-se a arriar os botes e ir para a pesca, numa atitude de: - quem manda agora somos nós, vocês, os oficiais, passam a moços e nós é que comandamos.
Esta atitude impensada, fruto da euforia descontrolada e desmedida, não foi avante por que não era sustentada nem tinha fundamento. Nós (os oficiais) também eramos cidadãos portugueses, com os mesmos direitos e deveres, que, como eles, ambicionávamos a liberdade, que durante tantos anos nos fora cerceada. O facto de os comandarmos não era sinónimo de prepotência ou despotismo, tão só de uma hierarquia necessária em qualquer organização bem sucedida.
A conclusão a que cheguei, é que todo este frenesim, era fruto de uma ignorância a que o Estado Novo tinha devotado a classe piscatória, levando-os a agir com o coração e não com a razão e inteligência porque durante muitos anos os tinha ostracizado e mantido analfabetos por interesse.
Era mecessário tirar o povo desta situação atrasada e miserável para que o país pudesse progredir social, económica e culturalmente. Era forçoso investir no povo, dando-lhe formação e conhecimento para que pudesse discernir bem no seu próprio interesse e do paÍs.
Fruto da falta de discernimento e de conhecimento, foram tomadas pelos tripulantes do navio «São Jorge» e doutros navios que se lhe juntaram em St. John’s, posições extremadas que redundaram na tomada de posição, dos interesses ligados ao armamento, mandarem regressar os navios a Portugal face ao impasse das negociações.
Como resultado deste absentismo a produtividade foi fraca. A maior parte do tempo foi passada em terra, em lutas  e reivindicações estéreis que no final redundaram em prejuízos para os tripulantes que dependiam do produto da pesca.
Como sempre acontece em situações semelhantes, paga o justo pelo pecador e, os que sempre cumpriram (caso dos oficiais e pessoal da cozinha) que desempenharam as suas funções  da mesma forma, em obediência à segurança da navegação e à alimentação que era necessário confecionar, foram as vítmas dos primeiros dias de liberdade.
Sempre fui um defensor da liberdade desde que comecei a ter um sentido cívico, político e patriótico, inspirado na figura carismática do General Humberto Delgado, «o General sem medo», como era conhecido pelo comum dos portugueses.
Tinha os meus 10 anos de idade quando pela primeira vez e pela mão do meu pai, assisti a um comício durante a campanha para a Presidência da República em que o General Humberto Delgado era o candidato opositor ao candidato do regime o Almirante Américo Tomás.
Desde essa altura que cimentei, passo a passo, a minha formação política, cívica e patriótica, alinhando pelos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade.
O que acabo de referir, é tão sómente para não criar dúvidas quanto ao que vou escrever a seguir, embora o meu comportamento não necessite de justificação.
Por educação (berço) por formação (escola) sou pela disciplina e pelo rigor, tolerando o que é tolerável e exigindo o que é exigível. Este foi sempre o lema do meu comportamento ao longo dos 33 anos em que tive ao meu encargo funções de comando de homens.
Pus sempre em primeiro lugar o ser humano e, desta forma, granjeei amigos entre eles, que ainda perduram, passados muitos anos em que, por imperativos profissionais, a vida nos separou.
A minha atividade profissional enquanto oficial de navios de pesca e, muito por força dela, tinha como meta alcançar sempre o máximo - que era carregar o navio no mais curto espaço de tempo. Desta forma, e por força do contrato de trabalho, quanto mais pescasse mais ganhava e o mesmo se aplicava aqueles que estavam sobre a minha alçada.
Todos a bordo tínhamos de estar em sintonia para conseguir os objetivos que nos propunhamos – carregar o navio.
A relação trabalho/produtividade era importante – apesar de nem sempre ser positiva – contudo, uns e outros (chefes e subordinados) não toleravam o absentismo dos que por força da sua natureza  se esquivavam ao trabalho.
O resultado final era quase sempre o esperado, para satisfação de todos, que regressavam a suas casas com o sentimento do dever cumprido e um pecúlio significativo pelo trabalho praticado.
Portugal está na cauda dos países onde o absentismo é maior e os índices de produtividade são dos mais baixos. O trabalhador português no estrangeiro, é considerado um dos melhores, atingindo índices de produtividade elevado. A que se deve esta discrepância?
Tenho ouvido várias explicações, nem sempre plausíveis  e que se enquadrem com a política do trabalho. Não sou sociólogo nem conheço nenhum estudo que explique este fenómeno, contudo, atrevo-me a dizer que o trabalhador português sente-se bem com uma liderança firme e exigente mas que em troca lhe ofereça segurança de emprego e de salário justo. Esta foi a minha política de atuação ao longo da minha vida, com a qual consegui bons resultados.