quinta-feira, 14 de outubro de 2010

OUVIR, DISCUTIR, AGIR

Todos  nós sabemos que temos dois ouvidos para ouvir e uma boca para falar, o que é comummente interpretado, que devemos ouvir duas vezes e falar só uma,ou seja, que devemos ter mais atenção em ouvir e ser mais comedidos no falar.
Os portugueses são um povo que geneticamente fala muito, ouve pouco e age ainda menos, ao contrário de outros povos, que ouvem, não discutem e poem acção nas causas. Enquanto os portugueses discutem, os outros agem, por isso levam vantagem.
Há quem afirme que as questões têm de ser bem discutidas e planeadas para não caírem em fracasso. Concordo em parte, quando se trata de questões relacionadas directamente com a saúde, educação e justiça; já não concordo tanto com outras questões genéricas que não interferem directamente com o ser humano, economia, política e outras que, embora interferindo na vida da humanidade, actuam indirectamente.
No meu entender falta-nos acção no que sobra em discussão. Somos demasiado passivos e reaccionários. Isto é, reagimos em vez de agirmos. Perdemos tempo com questões fúteis e inúteis, enquanto outros desprezam essas miudezas e preocupam-se com o essencial. Somos desconfiados e pouco crentes em nós próprios e menos ainda nos outros, o que nos torna pouco construtivos. Falta-nos amor próprio, temos o ego muito em baixo, por isso não agimos, desconfiados com as consequências. Somos medrosos, falta-nos o espírito aventureiro e empreendedor de outros tempos, que perdemos embalados pela abastança que tivemos.
Às vezes penso que faz falta um "abanão", como tiveram os nossos antepassados heróicos, para acordarmos da letargia de cinco séculos em que nos deixamos cair e em que nos mantemos embalados à espera que alguém nos venha trazer o "biberão" para mamarmos.
O "biberão" da Europa está a terminar, já o estamos a sentir a ecoar no vazio da nossa passividade mórbida, que nos transporta para o abismo. É tempo de acordar dessa letargia e agir para sobrevivermos. Levantemo-nos antes do abismo. É a única forma de nos mantermos vivos.
Se amamos o nosso país, vamos fazer algo por nós e por ele, vamos agir, mostrar que estamos vivos.
Às vezes ouço que é preciso vir uma guerra para acordar a humanidade; matar metade para a outra metade sobreviver. Não concordo com esta visão. Se cada um de nós exercer o múnus para que foi criado, trabalhar para o bem estar pessoal e da humanidade, o mundo será melhor e todos viveremos felizes.
É utópico esperar que outros façam por nós aquilo que a cada um compete fazer por si. É preciso que cada um faça os seus deveres e exija os seus direitos para que o mundo se transforme num Éden. 

sábado, 9 de outubro de 2010

AINDA SOBRE DIREITOS E DEVERES

O estado a que a Nação chegou era previsível há muito tempo. Direi mesmo que o estado crítico das contas públicas já há muito bateu no fundo. Os governantes tentaram camuflar o déficite, mantendo a cabeça na areia como a avestruz, contudo, a forma como a economia reagiu e as dificuldades a nível internacional forçaram o governo a mostrar parte da face da crise (não convém mostrar  toda).
As medidas agora impostas aos portugueses - principalmente aqueles que trabalham - podiam ter sido evitadas, se, atempadamente, tivessem sido tomadas as devidas precauções para não chegarem a este patamar, donde dificilmente sairemos, se outra política e outros governantes não se atreverem a mudar o sistema.
Desde a formação da Nação que sabemos que somos um país onde não abundam riquezas materiais que nos permitam fazer uma vida de ricos  e repartir a riqueza equitativamente.
Ao longo dos séculos demonstramos que só utilizando o nosso potencial humano, que é de facto a nossa riqueza natural, fomos vencendo os obstáculos que encontramos nessa caminhada de oito séculos.
A política que ultimamente tem vindo a ser seguida, fomenta uma atitude de passividade e de subsídio dependência em todos os níveis da sociedade. Não existe um incentivo ao trabalho, à criação de riqueza, pelo contrário, apoia-se a inoperância e "habilidade" de alguns, peritos em encontrar estratagemas para sacar do erário público (de todos os que trabalham e pagam os impostos em dia) a sua sobrevivência, contribuindo para o endividamento do país.
O velho ditado - há meio mundo a "lixar" outro meio - aplica-se ao nosso estado actual; é mesmo possível que existam mais dependentes do Estado do que contribuintes; estes são sempre os mesmos, por isso o Estado lhes vai sacando através de impostos directos ou indirectos uma grande fatia do trabalho, única fonte onde pode ir buscar receita, para fazer face às despesas que não consegue controlar.
As medidas que agora foram tomadas são de uma injustiça atroz para aqueles que sempre produziram e contribuíram para o Estado. Para uns, os que nada fazem, todos os direitos; para os outros, os que trabalham, que produzem, todos os deveres. Será isto um Estado de direito?
Esta é a filosofia do "Estado Social" que deixou cair este pobre país no fundo do poço e que não encontra solução para nos tirar de lá, culpando tudo e todos, não querendo admitir os erros que tem cometido ao longo dos mandatos com promessas eleitoralistas que sabe que não pode cumprir.
Sou solidário com quem mais precisa, com quem ficou sem emprego, com quem tem encargos a cumprir e que de um momento para o outro a vida lhe pregou uma partida ( falo por experiência própria), mas que quer  e tem vontade de trabalhar; mas já não posso aceitar que pessoas válidas que podem e devem dar o seu contributo à sociedade o não façam porque é mais cómodo viver do subsídio que o Estado dá para aqueles que de facto estão impossibilitados fisicamente para o fazer.
A medidas de apoio à pobreza que foram implementadas permitiram o acesso desregrado e oportunista de uma camada da população absentista e marginal. Só agora, depois da reincidência e teimosia em apostar nessas medidas, confrontado com o crescente buraco do saco sem fundo, o Governo resolveu tentar pôr cobro aos desmandos de gestão dessas medidas.
O país necessita de maior controle por parte dos governantes, aos "habilidosos preguiçosos" e aos "capitalistas ardilosos", para não cairmos na situação "terceiro mundista" do muito pobre e do muito rico, descapitalizando a classe média, a que trabalha e produz riqueza, e que mantém os países em funcionamento, com economias equilibradas, sem injustiças sociais gritantes, onde existe respeito, e onde a dignidade da pessoa humana é posta em primeiro lugar.