A DÍVIDA
Qualquer pessoa de bem, que se
preze, quando tem uma dívida, não descansa enquanto não a liquidar, para se
libertar do fardo pesado que a oprime e quanto mais cedo o fizer melhor.
Quer gostemos ou não, a Alemanha
é quem manda na Europa. Aquilo que não conseguiu pelas armas , foi alcançado
pela economia.
Angela Merkel já disse que a Europa vai ter de aguentar mais cinco
anos de austeridade. É o ciclo centenário da 1.º Grande Guerra Mundial que nos
espera em termos de recessão.
O nosso pobre país está de igual
modo, atolado numa dívida como há 100 anos. Para que a história não se repita,
só existe uma solução para vencermos estes cinco anos de austeridade que nos
esperam – a união entre os portugueses.
Para subir a encosta íngreme da
dívida em que caímos, só puxando o carro para cima, todos para o mesmo lado, é
que conseguiremos subir a montanha. Não existem alternativas, embora alguns
opinem que se formos aos ziguezagues é mais suave, mas custa na mesma e leva
mais tempo a suportar o esforço e aumenta o trajeto (leia-se custo), já foi experimentado e deu no que deu.
A prestação a pagar por um
período mais curto é mais dolorosa que a diluída no tempo, mas tem a vantagem
de libertar da dívida mais cedo e poder respirar e dormir melhor. Dou um exemplo:
- A subida a Santa Luzia pode-se fazer de duas formas; pelo escadório ou à
volta pela estrada. Se optarmos pela primeira, custa mais, mas quando chegarmos
lá acima podemos descansadamente comer o farnel. Ao contrário, se optarmos pela
segunda, não custa tanto, mas demora uma eternidade e quando alcançarmos o
topo, se lá chegarmos, já não há nada para comer.
Estou-me a lembrar ainda de outro
exemplo, relacionado com o sucesso dos emigrantes, que se deve em grande parte
à austeridade que eles próprios impoem
nos primeiros anos no estrangeiro, em que, para obterem alguma poupança
para comprarem a tão almejada casa na terra (em geral é esse o sonho da
maioria), privam-se de muitas coisas, que a maioria dos residentes no país não
dispensa. O objetivo é alcançar o sonho rápidamente para regressar à terra
natal, e aí viverem tranquilamente, escorados nalguma poupança conseguida e
trabalhando a terra ou montando um pequeno negócio.
Mas existem outros emigrantes que
não regressam mais, que vivem em casas arrendadas, por que não quiseram fazer
sacrifícios, preferiram fazer uma vida do tipo «chapa ganha, chapa batida»,
dando-se a luxos e prazeres, por vezes endividando-se, não tendo dinheiro
sequer para uma visita a familiares e amigos para matar saudades.
Outro exemplo concreto: - Quando
comprei a minha casa foram-me apresentadas duas opções de pagamentoda dívida;
aprimeira era pagar em quatro anos, com prestações elevadas, a segunda diluía a
dívida no tempo, em 20 anos, com prestações mais suaves. Optei pela primeira,
sabendo que durante quatro anos tinha de fazer muitos sacrifícios. Assim foi,
durante esse período andei com o carro a cair de velho, por que o dinheiro era
para amortizar a dívida, não comprei roupa, apenas para os filhos por que
estavam a crescer, não ia comer fora para poupar, mas não passei fome, férias
para fora de Viana nem pensar, foi então que descobri as belezas que existem pelo Alto Minho, não
havia dinheiro para supérfluos, até deixei de fumar durante três anos.
Depois de trinta anos em que estes acontecimentos ocorreram, quando
faço uma retrospetiva da minha vida, chego à conclusão que foi a melhor opção
que podia ter tomado, comparado com outras situações que conheço, que optaram
por prestações mais suaves, mas que foram acumulando dívidas, para comprar
carro, para os filhos irem para a Universidade, para substituir
eletrodomésticos e por fim tiveram de renegociar a dívida da casa passando para
trinta anos, não se tendo livrado ainda do fantasma da dívida.
O que se passa no nosso país é comparável a este cenário -
adiar o pagamento da dívida. Os sucessivos governos, para além de terem adiado
o pagamento da dívida, engrossaram-na com novos empréstimos para pagar juros.
O que nos espera a todos não é
nada animador face às notícias ontem divulgadas pelo ministro das Finanças na
Assembleia da República, informando que quando entramos para o Euro a dívida
era inferior a 50% do PIB, em 2005 representava 62,5% e em 2013 será de 124% e
que vão ser preciso décadas para regressar aos 62% . Este abismo em que estamos
terá de ser tapado equitativa e proporcionalmente por todos, e não só por aqueles que vivem ou
viveram do trabalho como até aqui.
Desde que comecei a trabalhar em
1967 sempre fui taxado com impostos. Enquanto isso, outros foram amnistiados
com perdões fiscais, prazos expirados por atraso de cobranças, fuga ao fisco e
outras injustiças fiscais. Revolta pensar que num país que se diz de direito,
estas situações acontecem e, mais revolta ainda, quando depois de ter pago os
impostos em dia ao longo duma vida e pensando que tinha direito a uma reforma
para a qual descontei 42 anos, é-me tirada parte dessa reforma.
Até há pouco tempo acreditei no
Sistema de Segurança Social e julgava que em circunstância alguma a minha
pensão ia estar em causa, por que o Estado, como pessoa de bem, honrava os seus
contratos e geria os meus descontos através dum fundo de pensões intocável que
garantia a reforma aos pensionistas.
Quanto aos restantes impostos, pensava que tinha de contribuir
proporcional e equitativamente aos meus rendimentos para o Estado Social, ou
seja, para a saúde, educação, cultura, obras públicas, etc. , e que esse
dinheiro seria bem gerido. Tal não aconteceu, e é confrangedor e frustrante ao
fim duma vida, em que o mínimo que esperava era paz e sossego, estar sériamente
preocupado com o que me pode acontecer no resto dos meus dias.
Viana do Castelo, 2012-11-07
Manuel de Oliveira Martins