domingo, 9 de dezembro de 2012


A DÍVIDA
Qualquer pessoa de bem, que se preze, quando tem uma dívida, não descansa enquanto não a liquidar, para se libertar do fardo pesado que a oprime e quanto mais cedo o fizer melhor.
Quer gostemos ou não, a Alemanha é quem manda na Europa. Aquilo que não conseguiu pelas armas , foi alcançado pela economia.
Angela Merkel já disse  que a Europa vai ter de aguentar mais cinco anos de austeridade. É o ciclo centenário da 1.º Grande Guerra Mundial que nos espera em termos de recessão.
O nosso pobre país está de igual modo, atolado numa dívida como há 100 anos. Para que a história não se repita, só existe uma solução para vencermos estes cinco anos de austeridade que nos esperam – a união entre os portugueses.
Para subir a encosta íngreme da dívida em que caímos, só puxando o carro para cima, todos para o mesmo lado, é que conseguiremos subir a montanha. Não existem alternativas, embora alguns opinem que se formos aos ziguezagues é mais suave, mas custa na mesma e leva mais tempo a suportar o esforço e aumenta o trajeto (leia-se custo),  já foi experimentado e deu no que deu.
A prestação a pagar por um período mais curto é mais dolorosa que a diluída no tempo, mas tem a vantagem de libertar da dívida mais cedo e poder respirar e dormir melhor. Dou um exemplo: - A subida a Santa Luzia pode-se fazer de duas formas; pelo escadório ou à volta pela estrada. Se optarmos pela primeira, custa mais, mas quando chegarmos lá acima podemos descansadamente comer o farnel. Ao contrário, se optarmos pela segunda, não custa tanto, mas demora uma eternidade e quando alcançarmos o topo, se lá chegarmos, já não há nada para comer.
Estou-me a lembrar ainda de outro exemplo, relacionado com o sucesso dos emigrantes, que se deve em grande parte à austeridade que eles próprios impoem  nos primeiros anos no estrangeiro, em que, para obterem alguma poupança para comprarem a tão almejada casa na terra (em geral é esse o sonho da maioria), privam-se de muitas coisas, que a maioria dos residentes no país não dispensa. O objetivo é alcançar o sonho rápidamente para regressar à terra natal, e aí viverem tranquilamente, escorados nalguma poupança conseguida e trabalhando a terra ou montando um pequeno negócio.
Mas existem outros emigrantes que não regressam mais, que vivem em casas arrendadas, por que não quiseram fazer sacrifícios, preferiram fazer uma vida do tipo «chapa ganha, chapa batida», dando-se a luxos e prazeres, por vezes endividando-se, não tendo dinheiro sequer para uma visita a familiares e amigos para matar saudades.
Outro exemplo concreto: - Quando comprei a minha casa foram-me apresentadas duas opções de pagamentoda dívida; aprimeira era pagar em quatro anos, com prestações elevadas, a segunda diluía a dívida no tempo, em 20 anos, com prestações mais suaves. Optei pela primeira, sabendo que durante quatro anos tinha de fazer muitos sacrifícios. Assim foi, durante esse período andei com o carro a cair de velho, por que o dinheiro era para amortizar a dívida, não comprei roupa, apenas para os filhos por que estavam a crescer, não ia comer fora para poupar, mas não passei fome, férias para fora de Viana nem pensar, foi então que descobri  as belezas que existem pelo Alto Minho, não havia dinheiro para supérfluos, até deixei de fumar durante três anos.
Depois de trinta anos  em que estes acontecimentos ocorreram, quando faço uma retrospetiva da minha vida, chego à conclusão que foi a melhor opção que podia ter tomado, comparado com outras situações que conheço, que optaram por prestações mais suaves, mas que foram acumulando dívidas, para comprar carro, para os filhos irem para a Universidade, para substituir eletrodomésticos e por fim tiveram de renegociar a dívida da casa passando para trinta anos, não se tendo livrado ainda do fantasma da dívida.
O que se passa  no nosso país é comparável a este cenário - adiar o pagamento da dívida. Os sucessivos governos, para além de terem adiado o pagamento da dívida, engrossaram-na com novos empréstimos para pagar juros.
O que nos espera a todos não é nada animador face às notícias ontem divulgadas pelo ministro das Finanças na Assembleia da República, informando que quando entramos para o Euro a dívida era inferior a 50% do PIB, em 2005 representava 62,5% e em 2013 será de 124% e que vão ser preciso décadas para regressar aos 62% . Este abismo em que estamos terá de ser tapado equitativa e proporcionalmente  por todos, e não só por aqueles que vivem ou viveram do trabalho como até aqui.
Desde que comecei a trabalhar em 1967 sempre fui taxado com impostos. Enquanto isso, outros foram amnistiados com perdões fiscais, prazos expirados por atraso de cobranças, fuga ao fisco e outras injustiças fiscais. Revolta pensar que num país que se diz de direito, estas situações acontecem e, mais revolta ainda, quando depois de ter pago os impostos em dia ao longo duma vida e pensando que tinha direito a uma reforma para a qual descontei 42 anos, é-me tirada parte dessa reforma.
Até há pouco tempo acreditei no Sistema de Segurança Social e julgava que em circunstância alguma a minha pensão ia estar em causa, por que o Estado, como pessoa de bem, honrava os seus contratos e geria os meus descontos através dum fundo de pensões intocável que garantia a reforma aos pensionistas.
Quanto aos restantes  impostos, pensava que tinha de contribuir proporcional e equitativamente aos meus rendimentos para o Estado Social, ou seja, para a saúde, educação, cultura, obras públicas, etc. , e que esse dinheiro seria bem gerido. Tal não aconteceu, e é confrangedor e frustrante ao fim duma vida, em que o mínimo que esperava era paz e sossego, estar sériamente preocupado com o que me pode acontecer no resto dos meus dias.
Viana do Castelo, 2012-11-07
Manuel de Oliveira Martins

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