Ao longo dos tempos foi sempre a
fome o flagelo da humanidade e as guerras
foram sempre a consequência dramática dessa calamidade.
A crise mundial está interligada
à crise económica e esta à instabilidade demográfica que se vive no mundo.
Existem regiões no Globo onde o
índice de natalidade é elevado e outras
onde é deficitário, com tendência a agravar-se, quer num e noutro caso. Por via
deste cenário, o mercado laboral está desregulado em número e em salários,
fatores que influenciam o mundo do trabalho e a vida económica, dando origem à
especulação financeira, dominada pelo capital.
No Mundo Ocidental em que
vivemos, está-se a assistir a uma diminuição do crescimento em consequência do decréscimo da natalidade.
Com o aumento do desemprego
poderá pensar-se que há mão de obra excedentária. Aparentemente assim é, mas a
competitividade dos países em crescimento (China, Índia, Brasil …) colocando no
mercado produtos a baixo preço, derivados da mão de obra barata, são o fator que
está a provocar o desemprego ocidental.
Combater este processo é errado,
por que o fenómeno reside na condição demográfica que se verifica no Globo. Em
vez de combatê-la é preciso compreendê-la, tentando equilibrar o choque
cultural que existe entre os povos.
É utópico? É. Mas o que não é
utópico no Universo? Há uma década atrás não se pensava na globalização, estava
a despontar e havia muita gente cética. Hoje é um dado adquirido. As coisas
acontecem a velocidades vertiginosas, impensáveis há décadas atrás, fruto da
evolução tecnológica e da investigação, por isso, acredito que o distanciamento
cultural que hoje existe entre o Ocidente e o Oriente, entre o Norte e o
Sul diminua e se verifique uma
aproximação, para bem da humanidade, construindo um mundo onde todos tenham
direito ao trabalho e a uma vida condigna.
A falta de equilíbrio demográfico
é, em meu entender, a causa principal
que gera assimetrias sociais e económicas, estando na génese o fator cultural
que é preciso solucionar.
A solução está nos governantes?
Também, mas não só. Por mais medidas que tomem, se cada um de nós não mudar,
jamais conseguirão mudar o que quer que seja, por muito boa vontade que tenham.
É costume ouvir-se dizer «sozinho
não posso mudar o mundo», mas também não se pode afirmar que os governantes
possam mudar o mundo. Podem, isso sim, implementar medidas que contribuam para
que as pessoas mudem, de hábitos, de cultura e dessa forma sejam um veículo
para a mudança.
Em Portugal, os governantes que
tivemos pós revolução de abril pouco ou nada contribuíram para essa mudança que
se desejava e era necessária.
O que é que se fez pela cultura?
Por mais voltas que dê à cabeça, não encontro qualquer motivo que possa
apontar, que seja digno de referência cultural tendente a contribuir para a
mudança da sociedade, do país e do mundo.
Estigmatizados pela referência do
«canudo» fomentou-se uma corrida às licenciaturas, mestrados e doutoramentos,
como medida para atingir um «status cultural» (ainda não alcançado) mas que em
nada comprova a cultura de um povo, que as esperanças de abril faziam
acreditar.
Criou-se uma «elite académica»
sem planeamento nem controlo, difícil de gerir, mesmo em tempo de «vacas
gordas» e muito menos agora que o leite secou e já não dá para alimentar tantas
bocas famintas.
Os que adquiriram os «canudos»
recentemente, não sabem o que hão de fazer, restando-lhes a emigração; as
«elites académicas» preocupam-se por que lhes começa a faltar a matéria prima
(os alunos), fruto do mau planeamento e da baixa demográfica que não foi tida
em conta.
Depois destas políticas mal
conduzidas, verifica-se que diminuiu o analfabetismo, mas que culturalmente o
povo não evoluiu, de forma a tornar-se mais autónomo, mais solidário, mais
culto, mais independente.
O índice cultural não se mede só
pelo número de letrados e doutorados, mas sente-se também na forma como as
pessoas se relacionam uns com os outros, com o meio ambiente, como vivem em
sociedade, procurando ser felizes.
É costume dizer que as crises são
boas para relançar a economia. Oxalá que esta crise sirva não só para isso, mas
também e sobretudo, como ponto de reflexão sobre aquilo que se fez menos bem e
constitua essencialmente uma mudança cultural.
A cultura não dá frutos imediatos
mas a seu tempo pode-se colher melhores
e mais saborosos frutos. Assim o espero.
Viana do Castelo, 2013-02-26
Manuel de Oliveira Martins
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