sábado, 16 de março de 2013

A CRISE MUNDIAL E O DESEMPREGO



Ao longo dos tempos foi sempre a fome o flagelo da humanidade e as guerras  foram sempre a consequência dramática dessa calamidade.
A crise mundial está interligada à crise económica e esta à instabilidade demográfica que se vive no mundo.
Existem regiões no Globo onde o índice de natalidade é elevado  e outras onde é deficitário, com tendência a agravar-se, quer num e noutro caso. Por via deste cenário, o mercado laboral está desregulado em número e em salários, fatores que influenciam o mundo do trabalho e a vida económica, dando origem à especulação financeira, dominada pelo capital.
No Mundo Ocidental em que vivemos, está-se a assistir a uma diminuição do crescimento em consequência do decréscimo da natalidade.
Com o aumento do desemprego poderá pensar-se que há mão de obra excedentária. Aparentemente assim é, mas a competitividade dos países em crescimento (China, Índia, Brasil …) colocando no mercado produtos a baixo preço, derivados da mão de obra barata, são o fator que está a provocar o desemprego  ocidental.
Combater este processo é errado, por que o fenómeno reside na condição demográfica que se verifica no Globo. Em vez de combatê-la é preciso compreendê-la, tentando equilibrar o choque cultural que existe entre os povos.
É utópico? É. Mas o que não é utópico no Universo? Há uma década atrás não se pensava na globalização, estava a despontar e havia muita gente cética. Hoje é um dado adquirido. As coisas acontecem a velocidades vertiginosas, impensáveis há décadas atrás, fruto da evolução tecnológica e da investigação, por isso, acredito que o distanciamento cultural que hoje existe entre o Ocidente e o Oriente, entre o Norte e o Sul  diminua e se verifique uma aproximação, para bem da humanidade, construindo um mundo onde todos tenham direito ao trabalho e a uma vida condigna.
A falta de equilíbrio demográfico é, em meu  entender, a causa principal que gera assimetrias sociais e económicas, estando na génese o fator cultural que é preciso solucionar.
A solução está nos governantes? Também, mas não só. Por mais medidas que tomem, se cada um de nós não mudar, jamais conseguirão mudar o que quer que seja, por muito boa vontade que tenham.
É costume ouvir-se dizer «sozinho não posso mudar o mundo», mas também não se pode afirmar que os governantes possam mudar o mundo. Podem, isso sim, implementar medidas que contribuam para que as pessoas mudem, de hábitos, de cultura e dessa forma sejam um veículo para a mudança.
Em Portugal, os governantes que tivemos pós revolução de abril pouco ou nada contribuíram para essa mudança que se desejava e era necessária.
O que é que se fez pela cultura? Por mais voltas que dê à cabeça, não encontro qualquer motivo que possa apontar, que seja digno de referência cultural tendente a contribuir para a mudança da sociedade, do país e do mundo.
Estigmatizados pela referência do «canudo» fomentou-se uma corrida às licenciaturas, mestrados e doutoramentos, como medida para atingir um «status cultural» (ainda não alcançado) mas que em nada comprova a cultura de um povo, que as esperanças de abril faziam acreditar.
Criou-se uma «elite académica» sem planeamento nem controlo, difícil de gerir, mesmo em tempo de «vacas gordas» e muito menos agora que o leite secou e já não dá para alimentar tantas bocas famintas.
Os que adquiriram os «canudos» recentemente, não sabem o que hão de fazer, restando-lhes a emigração; as «elites académicas» preocupam-se por que lhes começa a faltar a matéria prima (os alunos), fruto do mau planeamento e da baixa demográfica que não foi tida em conta.
Depois destas políticas mal conduzidas, verifica-se que diminuiu o analfabetismo, mas que culturalmente o povo não evoluiu, de forma a tornar-se mais autónomo, mais solidário, mais culto, mais independente.
O índice cultural não se mede só pelo número de letrados e doutorados, mas sente-se também na forma como as pessoas se relacionam uns com os outros, com o meio ambiente, como vivem em sociedade, procurando ser felizes.
É costume dizer que as crises são boas para relançar a economia. Oxalá que esta crise sirva não só para isso, mas também e sobretudo, como ponto de reflexão sobre aquilo que se fez menos bem e constitua essencialmente uma mudança cultural.
A cultura não dá frutos imediatos mas a seu tempo pode-se colher  melhores e mais saborosos frutos. Assim o espero.
Viana do Castelo, 2013-02-26
Manuel de Oliveira Martins