domingo, 21 de novembro de 2010

É TEMPO DE CRESCER

A crise económica e financeira a que o nosso país chegou, há muito que era esperada. Só um cego não via a inevitabilidade de mais dia menos dia acordarmos com a notícia dessa fatalidade. Não é preciso ser economista ou estratega político para antever com alguma certeza o que estamos a passar.
Os políticos tentaram esconder dos portugueses a verdadeira dimensão da crise e, mesmo agora, que admitiram que é necessário tomar medidas drásticas para tentar conter a dívida, ainda não conseguem dizer-nos a verdade, escondendo dos portugueses essa realidade, protelando sine die aquilo que a maioria há muito já descobriu, porque está sentindo na pele os efeitos dela, coisa que eles não sentem porque se distanciaram do povo que os elegeu e que esperava mais seriedade e responsabilidade no voto de confiança que lhes concedeu.
A crise não é só portuguesa, é geral. Países como os Estados Unidos estão a passar por privações semelhantes mas enfrentam-nas com frontalidade, sem ambiguidade nem mistificação, dizendo a verdade e apontando soluções e caminhos de orientação.
Portugal, país pequeno em tamanho e riqueza, tem um potencial latente que não está a ser posto em prática, porque adormeceu à sombra do proteccionismo Europeu, que uns quantos governantes, para se manterem no poder, lhes foram impingindo sem escrúpulos nem verdade, ludibriando-os com promessas mais ou menos ocas,  quais poções mágicas.
Os portugueses não se podem deixar mais embalar por essas patranhas. Temos que cair no real e cada um de nós tem de trabalhar por si e para si, não descurando o aspecto solidário que é devido aos que mais precisam e não podem, ignorando os que podem mas não querem.
Há muita coisa a fazer no nosso país se quisermos. Não precisamos ir trabalhar para os outros, como a nossa diáspora confirma, deixando lá a "mais valia" do nosso trabalho. É preciso que acordemos deste pesadelo, ponhamos mãos à obra e com o que temos construamos um país independente o mais possível, evitando dependermos em tudo dos outros, porque temos de lhes pagar aquilo que eles nos emprestam. Lembrem-se do ditado "ninguém dá nada a ninguém", temos de lutar por aquilo que ambicionamos, quanto menos pedirmos menos devemos e menos nos endividamos, menos dependemos dos outros, conquistando desta forma a nossa independência económica, logo, política.
O Padre António Vieira dizia: "somos aquilo que fazemos, se não fazemos não somos". Concentremo-nos neste pensamento e façamos dele um lema da nossa vida. Só assim haverá progresso nas nossas vidas e,    movidos por essa força espiritual, construamos o sucesso material que conduzirá à criação de riqueza e bem estar para todos.
Não podemos pensar que os governos têm a obrigação de fazer o nosso trabalho, de nos sustentar; cada um tem de trabalhar por si e para si, sem a ajuda de ninguém. Se cada um fizer aquilo que lhe compete, não é preciso que os outros façam por eles. Imaginemos a construção de uma casa; se o pedreiro, o carpinteiro, o trolha, o vidraceiro, o electricista, etc., cada um fizer o seu trabalho, a obra fica completa. Mas se um ou mais deles entender que não deve fazer: - "que façam os outros" - a obra não se concretiza e a casa não pode ser habitada.
O actor americano Denzel Washington, dizia, numa entrevista para a revista "Única" de hoje, domingo, instado a propósito da reeleição de Barack Obama: - "Não podemos estar à espera que um indivíduo, mesmo que seja presidente, resolva tudo sozinho". Por melhor que sejam as intenções de Obama (e estou convicto que o são) ou de outro político que venha a governar o nosso país, se cada um de nós não fizer o melhor que puder e souber em nosso proveito próprio, não podemos esperar que venham em nosso auxílio indefinida e obrigatoriamente.
O que tem sucedido ao nosso país, e estou certo que todos temos a noção disso, é que estamos à espera que alguém faça algo por nós, nos dê um subsídio, invocando este ou aquele motivo, com argumentos falsos ou não; a própria lei por vezes até facilita, enquanto noutros casos em que era necessário ajudar, complica, acabando os proponentes por desistir dos projectos.
O Estado, que somos todos nós, não possui um saco sem fundo, donde é possível tirar sempre. Precisamos de lá por alguma coisa para um dia, quando precisarmos, então sim, podermos ser ajudados com parcimónia e justiça.
Em 10 anos a Finlândia passou de país pobre a país rico, fruto de uma mudança radical na sua maneira de viver. Copiemos o exemplo.
Ainda estamos a tempo de inverter a ampulheta e crescermos como pessoas que o mesmo é dizer como país.

Oliveira Martins

terça-feira, 9 de novembro de 2010

QUEM TEM MEDO DO FMI ?

O Fundo Monetário Internacional, foi criado em 1945, com o intuito de zelar pela estabilidade do sistema monetário internacional e visa promover a cooperação e consulta em assuntos monetários entre os 184 países membros.
Há 27 anos, corria o ano de 1983, quando o governo de coligação do chamado Bloco Central, liderado por Mário Soares e Mota Pinto, com Ernâni Lopes como Ministro das Finanças viu-se na necessidade de recorrer a este fundo para evitar que o país caísse na bancarrota.
O FMI não é nenhum papão que nos venha sugar o sangue e comer a carne e os ossos, como ficou demonstrado nessa intervenção, que foi benéfica para Portugal, apesar da austeridade imposta para cumprir os acordos. Antes pelo contrário, é um remédio para curar os males daqueles que estão com a saúde económico-financeira abalada por desregramentos provocados por excessos cometidos.
Porquê e como chegamos a este estado? - todos sabemos, só que fazemos de conta  que não é connosco. Todos procuramos comer do bolo, mesmo que amanhã não haja nada para comer.
Neste contexto, mais uma vez imperou a lei do mais forte, do mais poderoso e influente que conseguiu obter uma fatia maior, enquanto que ao pobre, sem poder nem influência, apenas couberam algumas migalhas.
Este facto reporta-me para países do terceiro mundo onde grassa a fome, enquanto que noutros países abundam os géneros de toda a ordem e se queimam ou destroem milhões de toneladas de bens essenciais, a bem da economia, dizem eles.
Por vezes, e para o mundo ver que são generosos, resolvem enviar um navio com uns milhares de toneladas de cereal ou outro género, sempre com a cobertura da Comunicação Social, que não chega para satisfazer as necessidades imediatas dos mais expeditos e afoutos que, na expectativa criada de alimento, afluem aos locais de distribuição. É uma corrida desenfreada, é um salve-se quem puder, a ver quem consegue obter melhor proveito. Aqui impera sem sombra de dúvida a lei do mais forte, enquanto que o mais fraco,, desprotegido, inválido, os mais carenciados, são os que menos ou nada conseguem.
Costuma-se dizer que ninguém dá nada a ninguém e também, ninguém empresta algo sem contrapartida. Os bancos emprestam dinheiro com a contrapartida dos juros. Portugal tem-se socorrido de empréstimos estrangeiros, recorrendo a remédios que só têm contribuído para agravar a saúde económica e financeira cada vez mais, estando, para além disso, sujeito à especulação dos juros (hoje ultrapassou os 7%), adquirindo dinheiro cada vez que precisa, em piores condições de pagamento, sem com essa injecção de dinheiro atenuar a doença que nos rói e que é estrutural e não conjuntural como se pretende fazer crer.
Quando o mal não se corta pela raiz a planta mais tarde ou mais cedo estiola e morre. A economia do país está moribunda, é preciso duma vez por todas, sem medo, cortar o mal pela raiz, mesmo que para isso tenhamos de passar um mau bocado para sobrevivermos, mas é melhor do que morrermos.
Não é difícil fazer o diagnóstico económico-social do nosso país. Somos um país de poucos recursos económicos, altamente dependente do estrangeiro, mas temos um potencial humano e de trabalho invejável, que é pretendido e apreciado pelo estrangeiro. Não temos sabido aproveitar esse potencial que cada vez mais vai fugindo para o estrangeiro. Tornamo-nos preguiçosos, dependentes do dinheiro que a Comunidade Europeia nos foi emprestando durante estes 25 anos  para nos prepararmos para atingir o nivel deles. Não soubemos gerir bem esse dinheiro que nos foi emprestado sem juros, pensávamos que era uma benesse dos países mais ricos para com os mais pobres. Não entendemos que era uma ajuda que nos estavam a dar para crescermos, mas que se não a aproveitássemos teríamos de a pagar.
De quem é a culpa? - a culpa é de todos nós, mas em especial daqueles que elegemos para nos representar, convictos que eram os melhores e que eram credores da confiança que neles depositamos. Tal não se verificou e agora temos de pagar as favas por que esses senhores não souberam ou não quiseram honrar Portugal, em nome de quem exerceram os cargos que o povo lhes confiou.
Depois deste sucinto diagnóstico, só nos resta uma solução, que há muito já devia ter sido tomada - o FMI.
Não tenhamos medo do FMI, porque vai ser ele o antibiótico para os nossos males, mais eficaz que os placebos que temos andado a tomar e que só contribuíram para o afundamento a que chegamos.
Somos um povo de brandos costumes que precisamos de medidas fortes e radicais para espevitarmos. Foi assim ao longo da nossa história gloriosa. Saibamos emergir do lodo em que nos deixaram atolar com promessas vãs, com patranhas ignominiosas.
Precisamos de alguém, português ou estrangeiro - se for português melhor - que discipline as nossas finanças e ponha a economia a funcionar  e o país a confiar e a produzir. Falta-nos rigor na nossa vida. Habituamo-nos a desculpar tudo e todos em nome da liberdade. Esse não é o meu conceito de liberdade, o meu exige responsabilidade e educação para a cidadânia que é o que falta à maioria.