ABSENTISMO/
PRODUTIVIDADE
A relação entre estas
duas variáveis económicas, está diretamente ligada ao estado atual do país.
A libertação do jugo
pesado que amordaçou o povo durante 48 longos anos, despoletou uma onda
incontrolada de «libertinagem» (no bom sentido) que nenhum governo soube ou
teve a coragem de enfrentar e disciplinar, no interesse do país, que o mesmo é
dizer, no interesse de todos.
Todos os que já eram
adultos (à época), assistiram ou tomaram parte ativa nos processos
revolucionários pós o 25 de Abril de 1974 (em que o poder quase ia caindo na
rua), sabem como era antes e como foi depois.
Um prenúncio desse
clima de instabilidade, tive-o no
próprio dia da revolução e nos dias que se lhe seguiram. O navio «São
Jorge», um dos últimos bacalhoeiros da pesca à linha, tinha saído de Lisboa no
dia 22 de Abrilde 1974. O 25 de abril deu-se quando navegávamos no canal de São
Jorge, entre as ilhas açoreanas de São Jorge e as do Pico e Faial. A euforia, a
alegria, o entusiasmo, invadiu toda a tripulação logo que o capitão deu a Boa Nova, regozijando-se com tal
acontecimento, que há muito era desejado.
Daí em diante o capitão
não mais teve mão da tripulação que anárquicamente punha e dispunha. Faltaram
ao serviço de vigia, assaltaram o paiol dos mantimentos e negaram-se a arriar
os botes e ir para a pesca, numa atitude de: - quem manda agora somos nós, vocês, os oficiais, passam a moços e nós é
que comandamos.
Esta atitude impensada,
fruto da euforia descontrolada e desmedida, não foi avante por que não era
sustentada nem tinha fundamento. Nós (os oficiais) também eramos cidadãos
portugueses, com os mesmos direitos e deveres, que, como eles, ambicionávamos a
liberdade, que durante tantos anos nos fora cerceada. O facto de os comandarmos
não era sinónimo de prepotência ou despotismo, tão só de uma hierarquia
necessária em qualquer organização bem sucedida.
A conclusão a que
cheguei, é que todo este frenesim, era fruto de uma ignorância a que o Estado
Novo tinha devotado a classe piscatória, levando-os a agir com o coração e não
com a razão e inteligência porque durante muitos anos os tinha ostracizado e
mantido analfabetos por interesse.
Era mecessário tirar o
povo desta situação atrasada e miserável para que o país pudesse progredir
social, económica e culturalmente. Era forçoso investir no povo, dando-lhe
formação e conhecimento para que pudesse discernir bem no seu próprio interesse
e do paÍs.
Fruto da falta de
discernimento e de conhecimento, foram tomadas pelos tripulantes do navio «São
Jorge» e doutros navios que se lhe juntaram em St. John’s, posições extremadas
que redundaram na tomada de posição, dos interesses ligados ao armamento,
mandarem regressar os navios a Portugal face ao impasse das negociações.
Como resultado deste
absentismo a produtividade foi fraca. A maior parte do tempo foi passada em
terra, em lutas e reivindicações
estéreis que no final redundaram em prejuízos para os tripulantes que dependiam
do produto da pesca.
Como sempre acontece em
situações semelhantes, paga o justo pelo pecador e, os que sempre cumpriram
(caso dos oficiais e pessoal da cozinha) que desempenharam as suas funções da mesma forma, em obediência à segurança da
navegação e à alimentação que era necessário confecionar, foram as vítmas dos
primeiros dias de liberdade.
Sempre fui um defensor
da liberdade desde que comecei a ter um sentido cívico, político e patriótico,
inspirado na figura carismática do General Humberto Delgado, «o General sem
medo», como era conhecido pelo comum dos portugueses.
Tinha os meus 10 anos
de idade quando pela primeira vez e pela mão do meu pai, assisti a um comício
durante a campanha para a Presidência da República em que o General Humberto
Delgado era o candidato opositor ao candidato do regime o Almirante Américo
Tomás.
Desde essa altura que
cimentei, passo a passo, a minha formação política, cívica e patriótica,
alinhando pelos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade.
O que acabo de referir,
é tão sómente para não criar dúvidas quanto ao que vou escrever a seguir,
embora o meu comportamento não necessite de justificação.
Por educação (berço)
por formação (escola) sou pela disciplina e pelo rigor, tolerando o que é
tolerável e exigindo o que é exigível. Este foi sempre o lema do meu
comportamento ao longo dos 33 anos em que tive ao meu encargo funções de
comando de homens.
Pus sempre em primeiro
lugar o ser humano e, desta forma, granjeei amigos entre eles, que ainda
perduram, passados muitos anos em que, por imperativos profissionais, a vida
nos separou.
A minha atividade
profissional enquanto oficial de navios de pesca e, muito por força dela, tinha
como meta alcançar sempre o máximo - que era carregar o navio no mais curto
espaço de tempo. Desta forma, e por força do contrato de trabalho, quanto mais
pescasse mais ganhava e o mesmo se aplicava aqueles que estavam sobre a minha
alçada.
Todos a bordo tínhamos
de estar em sintonia para conseguir os objetivos que nos propunhamos – carregar
o navio.
A relação
trabalho/produtividade era importante – apesar de nem sempre ser positiva – contudo,
uns e outros (chefes e subordinados) não toleravam o absentismo dos que por
força da sua natureza se esquivavam ao
trabalho.
O resultado final era
quase sempre o esperado, para satisfação de todos, que regressavam a suas casas
com o sentimento do dever cumprido e um pecúlio significativo pelo trabalho
praticado.
Portugal está na cauda
dos países onde o absentismo é maior e os índices de produtividade são dos mais
baixos. O trabalhador português no estrangeiro, é considerado um dos melhores,
atingindo índices de produtividade elevado. A que se deve esta discrepância?
Tenho ouvido várias
explicações, nem sempre plausíveis e que
se enquadrem com a política do trabalho. Não sou sociólogo nem conheço nenhum
estudo que explique este fenómeno, contudo, atrevo-me a dizer que o trabalhador
português sente-se bem com uma liderança firme e exigente mas que em troca lhe
ofereça segurança de emprego e de salário justo. Esta foi a minha política de
atuação ao longo da minha vida, com a qual consegui bons resultados.
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