EM NOME DA LIBERDADE
Por tudo e por nada se invoca a
liberdade. Em nome dela se cometem as mais diversas atrocidades e se destroem
as mais elementares formas que a constituem.
Só quando se perde a liberdade é
que se lhe dá verdadeiro valor. Aqueles que se veem privados dela, estimam-na e
preservam-na com denodo e admiração, os outros normalmente usam-na como um bem
inesgotável.
É necessário praticarmos a
liberdade em todos os atos da nossa vida, dessa forma estamos a cimentar os
alicerces desse grandioso edifício que se chama liberdade e que o povo Americano simbolizou com uma estátua à
entrada da baía de Hudson.
Miguel Sousa Tavares disse numa
entrevista à Notícias Magazine em 13 de maio de 2012 (n.º 1042), [a liberdade] “não se compra nem sai no euromilhões,
demora uma vida a conseguir”. É de pequenino, nos mais singelos atos que
praticamos, que se começa a construir esse grande edifício. Os pais,
professores e sociedade em que vivemos, têm um papel importante na formação
desse conceito que à medida que crescemos se vai tornando real e ao mesmo tempo
intuitivo.
O mesmo entrevistado dizia ainda
que “ os portugueses já perceberam que
têm de mudar de vida, mas ainda não entenderam o que correu mal”. Eu digo
ao contrário: os portugueses já descobriram o que correu mal, mas, como a
avestruz, ainda não entenderam que têm de mudar de vida.
Todos já percebemos que gastamos
acima das nossas posses, que nos deixamos levar pelo consumismo, veja-se o
aumento anormal da produção de lixo, como indicador do consumo - além de outros
- para termos uma ideia geral do despesismo que grassa na sociedade.
Usa-se e deita-se fora,
alimentando uma economia fácil e sem consistência que nos leva ao abismo.
Um exemplo concreto desse
fenómeno, é o caso dos telemóveis que invadiu a sociedade portuguesa duma forma
galopante, a ponto da média por pessoa ter chegado a ultrapassar a unidade.
Como este, muitos outros exemplos poderiam ser
apontados, mas o que tarda a acontecer, embora já se verifiquem pequenos
índices de restrição ao consumo, é a mudança de hábitos que em nome da
liberdade se foram adquirindo, inconsistentemente.
Viana do Castelo, 2012-08-20
Manuel de Oliveira Martins
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