Vivemos numa época propícia à
aquisição desta doença, que afeta os mais sensíveis, cuja vulnerabilidade
psicológica não consegue suplantar-se aos cometimentos stressantes a que
diariamente somos submetidos na nossa vida.
Contrariamente ao que deveria ser
exigido aos candidatos a determinadas profissões, pilotos, condutores de
transportes públicos, maquinistas de comboios e outros, que envolvem
responsabilidades sobre seres humanos, nada é exigido sobre a condição
psicotécnica do concorrente.
Para além do exame inicial de
admissão à profissão é curial que anualmente o profissional seja submetido a um
teste de saúde física (que alguns serviços aconselham), mas também psicológica
( que raramente é exigido).
Quando me candidatei ao exame de
admissão para ingresso no Curso Elementar de Pilotagem na Escola Náutica (já lá
vão 48 anos), fui submetido a três tipos de testes: 1 – Teste físico rigoroso
feito por 5 médicos especialistas. Devíamos ir munidos de uma microrradiografia
e uma declaração passada pelo Delegado de Saúde em como não sofríamos de
qualquer doença infetocontagiosa. Este exame eliminou mais de metade dos
candidatos; 2 – Um teste psicotécnico (tipo americano) que fez uma razia
eliminando outra metade e, só por último, os restantes candidatos apurados nas
duas eliminatórias foram sujeitos aos testes das disciplinas nucleares de
matemática e física, no caso específico de Pilotagem. No final, dos 812 que
iniciaram o concurso, para os quatro cursos então ministrados na Escola Náutica
(Pilotagem, Máquinas Marítimas, Radiotecnia e Comissariado) foram apurados
apenas 161, cerca de 20%.
Desde 1975 que as admissões para
a Escola Náutica passaram a dispensar os dois primeiros testes, limitando-se ao
exame das disciplinas nucleares de cada curso.
Apesar do decréscimo da Marinha
Mercante (Comércio e Pesca) e especificamente não existirem paquetes
(transporte de passageiros), a especificidade da profissão, que se desenrola
num meio hostil como é o mar, sujeito às mais imponderáveis situações
depressivas, defendo que os profissionais desta e doutras áreas, sujeitas a
pressões constantes, devem ser submetidos a exames prévios de ingresso e
periódicos ao longo da vida, para avaliar o estado físico e psicológico e não
só a submissão a testes curriculares necessários para singrar na profissão.
Há fatores que modificam a nossa
saúde e o nosso comportamento físico e psicológico ao longo da vida e que
precisam ser detetados para tratamento. Recordo que no ano de 1972,
desempenhava então as funções de oficial imediato de um navio de pesca, o
«Tropical», que habitualmente fazia base na inesquecível cidade de Moçâmedes,
numa das idas para descarregar pescada para os frigoríficos da ARAN (Associação
dos Armadores de Pesca de Angola), que depois era transportada para a metrópole
pelos navios frigoríficos «Transfrio» e «Baía de São Brás», da CNN (Companhia
Nacional de Navegação), o Chefe de Máquinas dum outro navio de pesca, meu
colega de curso e amigo, desabafou comigo que teve de desembarcar o 2.º
Maquinista, devido ao comportamento dele na casa das máquinas não garantir a
segurança da mesma, consequentemente do navio. O comportamento anormal do 2.º
Maquinista devia-se ao estado alucinogénio provocado pelo consumo de canábis
que foi encontrada no camarote do infeliz oficial maquinista. Foi mandado para
a Metrópole para tratamento.
A tragédia que sucedeu
recentemente com o avião da Germanwings deve ser um alerta para as autoridades
aeronáuticas. Os governantes, a nível mundial, devem encontrar consensos no
sentido de garantirem a segurança dos passageiros, sob pena da
descredibilização do transporte aéreo. Em situação alguma o fator económico se
pode sobrepor ao fator segurança, como em algumas situações se subentende que
existiu alguma tentação para negligenciar.
Viana do Castelo, 27 de março de
2015
Manuel de Oliveira Martins
Publicado no jornal «A Aurora do Lima» n.º 15 em 2015-04-16
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