sexta-feira, 7 de agosto de 2015

VIOLÊNCIA


Todos os dias somos confrontados nos meios de comunicação com notícias de violência desmedida e injustificada, com origem, muitas vezes, em razões fúteis, que degeneram em agressão e/ou em morte.
Este surto de violência tem vindo a aumentar nos últimos tempos, é preocupante e merece das autoridades uma atenção redobrada e um inquérito às causas que estão na sua origem.
Sempre ouvi dizer que se deve exterminar o mal pela raiz, expressão com a qual concordo plenamente. Não se deve negligenciar os princípios básicos que regem a sociedade sob pena de se perder o controlo dessa mesma sociedade.
A educação está na base de tudo o que se é na vida. Nela reside a essência da sociedade que construímos. A educação não suporta negligência e tolerância, antes pelo contrário, exige disciplina e rigor que é muito diferente de prepotência e brutalidade.
É no «berço» que se criam e perpetuam para a vida os bons hábitos, que a escola deve complementar, e corrigir nos casos desviantes de conduta atípica motivados pela falta de carinho, atenção e amor, que não foram ministrados no «berço».
Os casos de violência que têm vindo a lume revelam que a sociedade está enferma e precisa urgentemente de ser tratada dos males que padece.
A polícia, entidade do Estado de direito, tem como missão principal garantir a segurança de pessoas e bens.
Não querendo fazer julgamentos prévios ao oficial de polícia que foi protagonista dos inqualificáveis incidentes ocorridos no dia 17 de maio, no final do jogo entre o Guimarães e o Benfica (penúltimo jogo da 1.ª liga de futebol) que terminou com um empate a zero, nem tão pouco classificar a Instituição de Polícia por este ato tresloucado de um dos seus agentes, não posso deixar de mais uma vez apelar ao legislador para rever as regras de admissão e progressão dos agentes de autoridade, submetendo-os a exames psicotécnicos imprescindíveis para o exercício da profissão que envolve o contacto com seres humanos possuidores dos mais díspares carateres  e personalidades.
Os órgãos de comunicação social, céleres em dar a notícia em primeira mão para captar audiências, também precisam de aprender e ponderar, quando e como, devem dar a notícia para evitar o despoletar de situações como as que se viveram no Marquês de Pombal. É preciso ter consciência do acendimento do rastilho, para evitar situações desagradáveis como aquelas que se viveram na noite dos festejos do título na zona do Marquês de Pombal, que podiam ter sido muito mais graves.
Outro caso que se prende com a violência e que merece também muita atenção da parte do legislador, é o caso do sargento com baixa psiquiátrica, que possuía um arsenal de 30 armas das quais 29 estavam legalizadas, a única que não estava foi a que originou o crime que vitimou o gerente da pastelaria de Benfica. Um militar perfeitamente identificado e com cadastro, com baixa psiquiátrica, não pode andar à solta nem ter acesso a uma arma muito menos a trinta.
Somos aquilo que criamos, para o bem ou para o mal. Não basta ter pão é preciso ter educação, ferramenta primordial em toda a estrutura do ser humano enquanto membro de uma sociedade sadia e culturalmente evoluída.

Viana do Castelo, 2015-05-20
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com
Publicado no jornal «A Aurora do Lima» n.º 24 em 2015-06-18



terça-feira, 9 de junho de 2015

DEPRESSÕES


Vivemos numa época propícia à aquisição desta doença, que afeta os mais sensíveis, cuja vulnerabilidade psicológica não consegue suplantar-se aos cometimentos stressantes a que diariamente somos submetidos na nossa vida.
Contrariamente ao que deveria ser exigido aos candidatos a determinadas profissões, pilotos, condutores de transportes públicos, maquinistas de comboios e outros, que envolvem responsabilidades sobre seres humanos, nada é exigido sobre a condição psicotécnica do concorrente.
Para além do exame inicial de admissão à profissão é curial que anualmente o profissional seja submetido a um teste de saúde física (que alguns serviços aconselham), mas também psicológica ( que raramente é exigido).
Quando me candidatei ao exame de admissão para ingresso no Curso Elementar de Pilotagem na Escola Náutica (já lá vão 48 anos), fui submetido a três tipos de testes: 1 – Teste físico rigoroso feito por 5 médicos especialistas. Devíamos ir munidos de uma microrradiografia e uma declaração passada pelo Delegado de Saúde em como não sofríamos de qualquer doença infetocontagiosa. Este exame eliminou mais de metade dos candidatos; 2 – Um teste psicotécnico (tipo americano) que fez uma razia eliminando outra metade e, só por último, os restantes candidatos apurados nas duas eliminatórias foram sujeitos aos testes das disciplinas nucleares de matemática e física, no caso específico de Pilotagem. No final, dos 812 que iniciaram o concurso, para os quatro cursos então ministrados na Escola Náutica (Pilotagem, Máquinas Marítimas, Radiotecnia e Comissariado) foram apurados apenas 161, cerca de 20%.
Desde 1975 que as admissões para a Escola Náutica passaram a dispensar os dois primeiros testes, limitando-se ao exame das disciplinas nucleares de cada curso.
Apesar do decréscimo da Marinha Mercante (Comércio e Pesca) e especificamente não existirem paquetes (transporte de passageiros), a especificidade da profissão, que se desenrola num meio hostil como é o mar, sujeito às mais imponderáveis situações depressivas, defendo que os profissionais desta e doutras áreas, sujeitas a pressões constantes, devem ser submetidos a exames prévios de ingresso e periódicos ao longo da vida, para avaliar o estado físico e psicológico e não só a submissão a testes curriculares necessários para singrar na profissão.
Há fatores que modificam a nossa saúde e o nosso comportamento físico e psicológico ao longo da vida e que precisam ser detetados para tratamento. Recordo que no ano de 1972, desempenhava então as funções de oficial imediato de um navio de pesca, o «Tropical», que habitualmente fazia base na inesquecível cidade de Moçâmedes, numa das idas para descarregar pescada para os frigoríficos da ARAN (Associação dos Armadores de Pesca de Angola), que depois era transportada para a metrópole pelos navios frigoríficos «Transfrio» e «Baía de São Brás», da CNN (Companhia Nacional de Navegação), o Chefe de Máquinas dum outro navio de pesca, meu colega de curso e amigo, desabafou comigo que teve de desembarcar o 2.º Maquinista, devido ao comportamento dele na casa das máquinas não garantir a segurança da mesma, consequentemente do navio. O comportamento anormal do 2.º Maquinista devia-se ao estado alucinogénio provocado pelo consumo de canábis que foi encontrada no camarote do infeliz oficial maquinista. Foi mandado para a Metrópole para tratamento.
A tragédia que sucedeu recentemente com o avião da Germanwings deve ser um alerta para as autoridades aeronáuticas. Os governantes, a nível mundial, devem encontrar consensos no sentido de garantirem a segurança dos passageiros, sob pena da descredibilização do transporte aéreo. Em situação alguma o fator económico se pode sobrepor ao fator segurança, como em algumas situações se subentende que existiu alguma tentação para negligenciar.
Viana do Castelo, 27 de março de 2015

Manuel de Oliveira Martins
Publicado no jornal «A Aurora do Lima» n.º 15 em 2015-04-16

sábado, 26 de abril de 2014

CONSUMISMO
A velocidade de rotação da terra cifra-se em cerca de 1.666 Km/hora e a de translação em 30 Km/segundo. Uma enormidade! Se não fosse a força da gravidade que nos atrai para o centro, seríamos disparados em órbita, como meteoritos da terra em decomposição.
Tal como no efeito geofísico parece que na vida real estamos a viver a uma velocidade astronómica que não conseguimos controlar, nem temos tempo de nos apear para pensar e analisar os efeitos perversos que ela está gerando em cada um de nós e consequentemente no mundo em que vivemos.
Recuando no tempo 50 anos, tenho memória de como se vivia e analiso a evolução verificada até aos dias de hoje. A economia, para colmatar deficiências e tentar resolver problemas, criou um monstro com uma dimensão tão grande que só uma «bomba atómica» pode destruir.
Quem como eu, nasceu por meados do século passado, por certo se lembrará do valor que era dado aos objetos de uso corrente, à forma como eram adquiridos, utilizados e estimados. Os mesmos objetos, nos dias de hoje têm um tratamento diametralmente oposto aquele outro. Dou como exemplo um par de sapatos que naquele tempo não era acessível a todos e, os privilegiados, utilizavam-nos em ocasiões e momentos especiais, com cuidado para não os estragarem e durarem, por que não havia dinheiro para comprar outros ou, mesmo que houvesse, existia um sentido de poupança incutido na educação e formação de cada um.
À primeira leitura poderá parecer que estou a fazer a apologia desses tempos, para nós portugueses de má memória, pelas circunstâncias específicas em que vivíamos. O que eu pretendo alertar é para o consumismo desenfreado, a uma velocidade estonteante, em que os sistemas economicistas colocaram o mundo, para além da velocidade cósmica.
O mundo está refém da economia cega e desregrada, nas mãos de um punhado de agiotas que só visam o lucro a troco de empréstimos incomportáveis para a sociedade. A humanidade tem de acordar e trabalhar no sentido de construir a «bomba atómica» que destrua este sistema injusto e deshumano que só privilegia alguns.
Cada um de nós é uma partícula dessa «bomba». Através da forma como agimos em sociedade, podemos com a nossa energia, comportamento, atitude e querer, construir uma sociedade mais justa  e equitativa. É  congregando ideias, vontades, ações, duma forma ordenada, planificada e sustentável que se consegue progredir e construir essa sociedade que beneficie todos e não só alguns. Um bolo precisa da união dos elementos que o constituem para se formar e tornar comestível. Se não se juntar a farinha com os ovos e demais ingredientes não haverá bolo.
As crises, ao longo dos séculos, serviram para regenerar a sociedade, unindo-a em torno de objetivos comuns. Façamos desta crise o veículo para crescermos, espiritual, cultural e humanamente, só assim poderemos almejar uma sociedade mais estável e sustentável em termos económicos, sem necessidade de recorrer ao poder do agiotismo, por que desta forma ele será destruído.
É abdicando de privilégios, tantas vezes desajustados e sem sentido, que podemos ajudar os que menos têm, ensinando-os e educando-os, para a fruição das coisas que o planeta Terra nos disponibiliza, para bem de todos, duma forma ponderada e sustentada para que possa ser duradoura.
O ambiente, é um bem que cabe a cada um gerir e preservar, denunciando quem abusar da sua utilização danosamente. Os recursos naturais, que são propriedade de todos nós, devem ser utilizados consoante as necessidades quotidianas e não desmesuradamente visando obter lucros que só servem a alguns. Estes são alguns dos muitos exemplos que devemos seguir para tornar este mundo melhor.
Cada ser humano deve respeitar-se e respeitar os outros para ser respeitado. Se assim procedermos diáriamente, na convivência de uns com os outros, estaremos a acrescentar força à «bomba atómica» que é necessário construir para abater o inimigo que atualmente domina o mundo.
Viana do Castelo, 2013-11-01
Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

CONSTITUCIONALIDADE


A Constituição de qualquer país é, por definição, a lei fundamental que enforma todas as leis. É a base de tudo o que posteriormente venha a ser elaborado em matéria de legislação, sem contestação, mas sujeita a revisão, consoante as falhas e inadaptações que se forem verificando ao longo do percurso de vigência.
O texto fundamental deve ser isento, inócuo, independente de pressões, políticas ou ideológicas;  deve ser abrangente e estruturante.
 A Assembleia Constituinte que após o 25 de abril de 1974 produziu o texto constitucional que nos rege, com adaptações (revisões) futuras, padece de enfermidades de natureza ideológica e política que ainda não foram corrigidas na totalidade e que obstam a um normal desenvolvimento social, económico e político.
Há, da parte de algumas forças partidárias, interesse em que assim se mantenha, para melhor jogarem em defesa dos objetivos momentâneos que as suas cores políticas preconizam.
Quer no momento da conceção quer nas revisões subsequentes, existiram pressões que impediram que o texto constitucional fosse o mais isento possível, indo ao encontro do interesse da maioria dos portugueses e não da maioria representativa das forças partidárias que existiam no momento.
Poderá parecer um paradoxo mas a Constituição está ferida de inconstitucionalidade à nascença e nos diversos tratamentos a que foi sujeita.
Quando as coisas não correm para o nosso lado invoca-se por tudo e por nada a Constituição, muitas das vezes até sem saber o que ela diz a tal respeito.
Os partidos, a bem da democracia, deviam-se entender, em nome do povo, em produzir uma lei fundamental  que não permitisse interpretações dúbias relativamente a matérias essenciais, deixando de lado posições ideológicas a que parecem estar reféns, como se um fantasma povoasse o imaginário, qual D. Sebastião que ainda apoquenta algumas mentes crentes.
O Tribunal Constitucional é o orgão fiscalizador do cumprimento da Constituição. Ultimamente tem sido chamado a pronunciar-se por força dos diplomas remetidos pela Presidência da República, orgão máximo do poder, que na dúvida suscitada pelas matérias, pede o parecer daquele orgão fiscalizador.
Atendendo à frequência com que recentemente o T.C. tem sido chamado a emitir decisão, seria oportuno uma revisão da Constituição nas matérias que mais dúvidas teem provocado e seria desejável que as forças partidárias despissem a roupagem que envergam e colocassem acima de tudo o interesse coletivo.
No mundo conturbado em que vivemos, e que está num processo de equilíbrio, os povos que melhor souberem gerir o momento, sobreviverão à mudança necessária ao bem comum da humanidade.
Se mantivermos posições irredutíveis e extremadas, a tendência será para o afastamento e nunca para a convergência. Temos de nos encontrar naquilo que nos une e não naquilo que nos separa, é uma frase feita, mas é verdadeira.
Já perdemos muito tempo a brincar à democracia, é tempo de agirmos com seriedade se não queremos passar mais meio século a carpir as mágoas.
Viana do Castelo, 2013-08-23
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com



sábado, 24 de agosto de 2013

VIANA FIEL AMIGA DO MAR. MEMÓRIAS DA EMPRESA DE PESCA DE VIANA

Está aberta ao público até ao dia 27 de outubro a exposição alusiva ao centenário da Empresa de Pesca de Viana.
Foi no dia 16 de agosto de 1913 que no escritório do Dr. Cortez na rua Mateus Barbosa en Viana do Castelo que foi lavrada a escritura de constituição da Parceria de Pescarias de Viana que viria em 1925 a adotar o nome de Empresa de Pesca de Viana.
É uma exposição a não perder. Nela poderá rever a história desta centenária empresa de pesca do bacalhau que tão bom nome criou no país e no estrangeiro.
É especialmente dedicada a todos aqueles  que nela trabalharam como pessoal de mar ou de terra. Visitem-na. 


 Precedendo a abertura da exposição, foi apresentado o livro de minha autoria, «Viana e a pesca do bacalhau» que procura retratar a história da pesca do bacalhau em Viana do Castelo; as empresas, os navios, as personalidades e os testemunhos daqueles que viveram no mar ou em terra a saga do bacalhau.

Faça uma visita ao Museu de Artes Decorativas, sito no Largo de São Domingos  em Viana do Castelo, para ver esta exposição e onde poderá adquirir o livro.


sábado, 16 de março de 2013

A CRISE MUNDIAL E O DESEMPREGO



Ao longo dos tempos foi sempre a fome o flagelo da humanidade e as guerras  foram sempre a consequência dramática dessa calamidade.
A crise mundial está interligada à crise económica e esta à instabilidade demográfica que se vive no mundo.
Existem regiões no Globo onde o índice de natalidade é elevado  e outras onde é deficitário, com tendência a agravar-se, quer num e noutro caso. Por via deste cenário, o mercado laboral está desregulado em número e em salários, fatores que influenciam o mundo do trabalho e a vida económica, dando origem à especulação financeira, dominada pelo capital.
No Mundo Ocidental em que vivemos, está-se a assistir a uma diminuição do crescimento em consequência do decréscimo da natalidade.
Com o aumento do desemprego poderá pensar-se que há mão de obra excedentária. Aparentemente assim é, mas a competitividade dos países em crescimento (China, Índia, Brasil …) colocando no mercado produtos a baixo preço, derivados da mão de obra barata, são o fator que está a provocar o desemprego  ocidental.
Combater este processo é errado, por que o fenómeno reside na condição demográfica que se verifica no Globo. Em vez de combatê-la é preciso compreendê-la, tentando equilibrar o choque cultural que existe entre os povos.
É utópico? É. Mas o que não é utópico no Universo? Há uma década atrás não se pensava na globalização, estava a despontar e havia muita gente cética. Hoje é um dado adquirido. As coisas acontecem a velocidades vertiginosas, impensáveis há décadas atrás, fruto da evolução tecnológica e da investigação, por isso, acredito que o distanciamento cultural que hoje existe entre o Ocidente e o Oriente, entre o Norte e o Sul  diminua e se verifique uma aproximação, para bem da humanidade, construindo um mundo onde todos tenham direito ao trabalho e a uma vida condigna.
A falta de equilíbrio demográfico é, em meu  entender, a causa principal que gera assimetrias sociais e económicas, estando na génese o fator cultural que é preciso solucionar.
A solução está nos governantes? Também, mas não só. Por mais medidas que tomem, se cada um de nós não mudar, jamais conseguirão mudar o que quer que seja, por muito boa vontade que tenham.
É costume ouvir-se dizer «sozinho não posso mudar o mundo», mas também não se pode afirmar que os governantes possam mudar o mundo. Podem, isso sim, implementar medidas que contribuam para que as pessoas mudem, de hábitos, de cultura e dessa forma sejam um veículo para a mudança.
Em Portugal, os governantes que tivemos pós revolução de abril pouco ou nada contribuíram para essa mudança que se desejava e era necessária.
O que é que se fez pela cultura? Por mais voltas que dê à cabeça, não encontro qualquer motivo que possa apontar, que seja digno de referência cultural tendente a contribuir para a mudança da sociedade, do país e do mundo.
Estigmatizados pela referência do «canudo» fomentou-se uma corrida às licenciaturas, mestrados e doutoramentos, como medida para atingir um «status cultural» (ainda não alcançado) mas que em nada comprova a cultura de um povo, que as esperanças de abril faziam acreditar.
Criou-se uma «elite académica» sem planeamento nem controlo, difícil de gerir, mesmo em tempo de «vacas gordas» e muito menos agora que o leite secou e já não dá para alimentar tantas bocas famintas.
Os que adquiriram os «canudos» recentemente, não sabem o que hão de fazer, restando-lhes a emigração; as «elites académicas» preocupam-se por que lhes começa a faltar a matéria prima (os alunos), fruto do mau planeamento e da baixa demográfica que não foi tida em conta.
Depois destas políticas mal conduzidas, verifica-se que diminuiu o analfabetismo, mas que culturalmente o povo não evoluiu, de forma a tornar-se mais autónomo, mais solidário, mais culto, mais independente.
O índice cultural não se mede só pelo número de letrados e doutorados, mas sente-se também na forma como as pessoas se relacionam uns com os outros, com o meio ambiente, como vivem em sociedade, procurando ser felizes.
É costume dizer que as crises são boas para relançar a economia. Oxalá que esta crise sirva não só para isso, mas também e sobretudo, como ponto de reflexão sobre aquilo que se fez menos bem e constitua essencialmente uma mudança cultural.
A cultura não dá frutos imediatos mas a seu tempo pode-se colher  melhores e mais saborosos frutos. Assim o espero.
Viana do Castelo, 2013-02-26
Manuel de Oliveira Martins


domingo, 9 de dezembro de 2012


A DÍVIDA
Qualquer pessoa de bem, que se preze, quando tem uma dívida, não descansa enquanto não a liquidar, para se libertar do fardo pesado que a oprime e quanto mais cedo o fizer melhor.
Quer gostemos ou não, a Alemanha é quem manda na Europa. Aquilo que não conseguiu pelas armas , foi alcançado pela economia.
Angela Merkel já disse  que a Europa vai ter de aguentar mais cinco anos de austeridade. É o ciclo centenário da 1.º Grande Guerra Mundial que nos espera em termos de recessão.
O nosso pobre país está de igual modo, atolado numa dívida como há 100 anos. Para que a história não se repita, só existe uma solução para vencermos estes cinco anos de austeridade que nos esperam – a união entre os portugueses.
Para subir a encosta íngreme da dívida em que caímos, só puxando o carro para cima, todos para o mesmo lado, é que conseguiremos subir a montanha. Não existem alternativas, embora alguns opinem que se formos aos ziguezagues é mais suave, mas custa na mesma e leva mais tempo a suportar o esforço e aumenta o trajeto (leia-se custo),  já foi experimentado e deu no que deu.
A prestação a pagar por um período mais curto é mais dolorosa que a diluída no tempo, mas tem a vantagem de libertar da dívida mais cedo e poder respirar e dormir melhor. Dou um exemplo: - A subida a Santa Luzia pode-se fazer de duas formas; pelo escadório ou à volta pela estrada. Se optarmos pela primeira, custa mais, mas quando chegarmos lá acima podemos descansadamente comer o farnel. Ao contrário, se optarmos pela segunda, não custa tanto, mas demora uma eternidade e quando alcançarmos o topo, se lá chegarmos, já não há nada para comer.
Estou-me a lembrar ainda de outro exemplo, relacionado com o sucesso dos emigrantes, que se deve em grande parte à austeridade que eles próprios impoem  nos primeiros anos no estrangeiro, em que, para obterem alguma poupança para comprarem a tão almejada casa na terra (em geral é esse o sonho da maioria), privam-se de muitas coisas, que a maioria dos residentes no país não dispensa. O objetivo é alcançar o sonho rápidamente para regressar à terra natal, e aí viverem tranquilamente, escorados nalguma poupança conseguida e trabalhando a terra ou montando um pequeno negócio.
Mas existem outros emigrantes que não regressam mais, que vivem em casas arrendadas, por que não quiseram fazer sacrifícios, preferiram fazer uma vida do tipo «chapa ganha, chapa batida», dando-se a luxos e prazeres, por vezes endividando-se, não tendo dinheiro sequer para uma visita a familiares e amigos para matar saudades.
Outro exemplo concreto: - Quando comprei a minha casa foram-me apresentadas duas opções de pagamentoda dívida; aprimeira era pagar em quatro anos, com prestações elevadas, a segunda diluía a dívida no tempo, em 20 anos, com prestações mais suaves. Optei pela primeira, sabendo que durante quatro anos tinha de fazer muitos sacrifícios. Assim foi, durante esse período andei com o carro a cair de velho, por que o dinheiro era para amortizar a dívida, não comprei roupa, apenas para os filhos por que estavam a crescer, não ia comer fora para poupar, mas não passei fome, férias para fora de Viana nem pensar, foi então que descobri  as belezas que existem pelo Alto Minho, não havia dinheiro para supérfluos, até deixei de fumar durante três anos.
Depois de trinta anos  em que estes acontecimentos ocorreram, quando faço uma retrospetiva da minha vida, chego à conclusão que foi a melhor opção que podia ter tomado, comparado com outras situações que conheço, que optaram por prestações mais suaves, mas que foram acumulando dívidas, para comprar carro, para os filhos irem para a Universidade, para substituir eletrodomésticos e por fim tiveram de renegociar a dívida da casa passando para trinta anos, não se tendo livrado ainda do fantasma da dívida.
O que se passa  no nosso país é comparável a este cenário - adiar o pagamento da dívida. Os sucessivos governos, para além de terem adiado o pagamento da dívida, engrossaram-na com novos empréstimos para pagar juros.
O que nos espera a todos não é nada animador face às notícias ontem divulgadas pelo ministro das Finanças na Assembleia da República, informando que quando entramos para o Euro a dívida era inferior a 50% do PIB, em 2005 representava 62,5% e em 2013 será de 124% e que vão ser preciso décadas para regressar aos 62% . Este abismo em que estamos terá de ser tapado equitativa e proporcionalmente  por todos, e não só por aqueles que vivem ou viveram do trabalho como até aqui.
Desde que comecei a trabalhar em 1967 sempre fui taxado com impostos. Enquanto isso, outros foram amnistiados com perdões fiscais, prazos expirados por atraso de cobranças, fuga ao fisco e outras injustiças fiscais. Revolta pensar que num país que se diz de direito, estas situações acontecem e, mais revolta ainda, quando depois de ter pago os impostos em dia ao longo duma vida e pensando que tinha direito a uma reforma para a qual descontei 42 anos, é-me tirada parte dessa reforma.
Até há pouco tempo acreditei no Sistema de Segurança Social e julgava que em circunstância alguma a minha pensão ia estar em causa, por que o Estado, como pessoa de bem, honrava os seus contratos e geria os meus descontos através dum fundo de pensões intocável que garantia a reforma aos pensionistas.
Quanto aos restantes  impostos, pensava que tinha de contribuir proporcional e equitativamente aos meus rendimentos para o Estado Social, ou seja, para a saúde, educação, cultura, obras públicas, etc. , e que esse dinheiro seria bem gerido. Tal não aconteceu, e é confrangedor e frustrante ao fim duma vida, em que o mínimo que esperava era paz e sossego, estar sériamente preocupado com o que me pode acontecer no resto dos meus dias.
Viana do Castelo, 2012-11-07
Manuel de Oliveira Martins