A felicidade conquista-se, não nasce connosco, vai-se adquirindo consoante cada um trabalha para alcançar esse bem. Há os que trabalham para alcançar a riqueza terrena, material e efémera, que se esfuma num ápice, num lance de jogo, numa catástrofe. A felicidade é eterna, permanente, porque construída e cimentada num alicerce espiritual.
O ser feliz depende de cada um e jamais depende de outra pessoa. Este aspecto leva-nos a reflectir sobre o sobrenatural e universal conceito da imortalidade e perenidade das coisas. Leva-nos a questionar sobre a nossa existência e a forma como vivemos a nossa vida.
Para se ser feliz é necessário sentirmo-nos bem connosco próprios, sem preconceitos, ser autêntico nas palavras e nas acções. Não se pode dizer que se é infeliz porque nascemos pobres (materialmente), quando nada fizemos para melhorar a nossa conduta para atingir esse nível espiritual. A pobreza material não é sinónimo de infelicidade nem a riqueza é sinónimo de felicidade.
O prazer espiritual que se atinge em cada acto da nossa vida constitui o alimento básico da construção dessa almejada felicidade. Quando praticamos um acto de amor, de amizade, de carinho, de solidariedade, de ajuda, desinteressadamente sem esperar retorno, estamos a construir essa felicidade, porque estamos a alimentar a nossa alma de nutrientes saudáveis que nos dão prazer e nos ajudam a ser felizes.
A felicidade é a serenidade, a paz de alma que sentimos dentro de nós, como se tivéssemos comido o melhor manjar do mundo, mais ainda, porque permanece em nós, não se desvanece, nem passa como o manjar material.
Quando ao fim de um dia de trabalho, em qualquer profissão, fazemos o inventário das nossas acções e chegamos à conclusão que em nossa consciência agimos bem, isso dá-nos uma sensação de alegria, de prazer, de tranquilidade, de paz interior; isso é felicidade.
A nossa consciência é o juiz que existe dentro de cada um de nós, que absolve ou condena os nossos actos. É o somatório da formação intelectual e espiritual de cada um. É portanto relativa, não quantificável em termos absolutos, por isso muito difícil de avaliar por alguém exterior a nós. O que seria de toda a humanidade se outro ser pudesse avaliar ou julgar a consciência de cada um de nós? O poder superior que criou o mundo, fê-lo tão bem feito que é possível vivermos harmoniosamente se obedecermos aos princípios que regem o universo. Não me refiro a princípios morais ou religiosos, inerentes a cada um e a cada religião, porque esses têm na sua génese o homem enquanto ser criado por esse poder superior, que está para além de nós e nos transcende. Aqui reside a fé de cada um.
Ouço muitas vezes, muitas pessoas queixarem-se da sua infelicidade, como se alguém pudesse ajudá-las a construir essa felicidade que tanto ambicionam, mas que na maioria das vezes nada fazem para conquistá-la. Não é com ajudas materiais ou mesmo com palavras que ajudamos alguém a ser feliz, às vezes ao querermos ajudar estamos a contribuir ainda mais para a infelicidade desse ser.
Como exemplo da ajuda material cito o caso de um indivíduo metido na droga. Quanto mais dinheiro lhe dermos mais ele se afundará no abismo. O inverso também é verdadeiro em alguns casos, mas o que importa salientar é que só depende dele construir a sua felicidade; é intrínseco a cada um encontrar o seu caminho para ser feliz.
A ajuda espiritual pode ter uma acção mais positiva, se escutada e entendida com atenção e vontade de melhorar e sair do abismo, mas mais difícil de conseguir, porque é menos tangível, menos palpável para a maioria dos seres, por isso menos conseguida.
Todo este arrazoado leva-nos a concluir que só depende de nós sermos felizes se nos empenharmos na construção dessa felicidade, não adianta culpar o próximo, os governantes, o mundo, pela nossa infelicidade.
Viana do Castelo, 2010-03-06
Manuel de Oliveira Martins
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