sábado, 27 de fevereiro de 2010

ATITUDE

Foi há uma semana que ocorreu na Madeira a catástrofe que os orgãos de informação noticiaram detalhadamente.
Todos nos apercebemos da gravidade da situação, embora não pudessem nem devessem ser trazidas para o conhecimento público situações mais dramáticas. Imperou o bom senso dos informadores. Não especularam.
A maioria das pessoas conhece a orografia da Ilha da Madeira, com montes elevados e desfiladeiros íngremes, escarpas acidentadas e declíves acentuados que impossibilitam a construção de infraestruturas conducentes à minimização de catástrofes naturais, como a que aconteceu recentemente.
A primeira vez que visitei a Madeira foi no longínquo ano de 1969. Passados 40 anos, o ano passado fui lá novamente e, do que me recordava ainda, verifiquei que havia uma diferença abismal. Gostei do que vi e durante o tempo que lá estive senti-me bem, não só pelo clima mas pelas boas condições infraestruturais, nomeadamente em vias de circulação, túneis que encurtam as distâncias e permitem circular com mais segurança e duma forma geral em todos os aspectos.
Não era até este momento um adepto da forma crispada e contundente com que o Dr. Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional se referia ao Governo Nacional em especial ao Sr. Primeiro Ministro e duma forma geral a todos os portugueses, a quem deve muito, fruto das contribuições que todos descontamos em impostos, parte dos quais são canalizados para a Madeira. Retratou-se perante a solidariedade que do Continente lhe foi prestada nas primeiras horas da catástrofe, pelo Presidente da República e Primeiro Ministro. Fiquei a ter por ele outra consideração.
Tenho ouvido comentários negativos à forma como as ribeiras estão canalizadas, às construções anárquicas em locais impróprios, etc, etc. 
Depois do que vi na Madeira recentemente, e confrontado com as imagens arrepiantes e inimagináveis da força incontrolável das águas vindas das montanhas, chego à conclusão, que se as ribeiras não tivessem sido canalizadas, a catástrofe teria sido maior. Por outro lado, a natureza dos solos da Madeira é propícia ao deslizamento das terras como aconteceu em locais que eu conheço, e onde nem sequer houve a intervenção do homem, como no caso do Monte dos Aviceiros, onde pernoitei em Novembro passado. Este caso só por si justifica quase tudo o que aconteceu, aliado naturalmente ao encharcamento dos níveis friáticos, pela quantidade de chuva fora do normal.
As casas não resistiram, nem podiam ter resistido, mas em condições normais resistem. Na Madeira não há muitos locais onde se possa construir casas para resistir a catástrofes como esta. Por outro lado, trata-se duma zona de minifúndio, onde as pessoas possuem um terreno que herdaram dos pais e onde querem construir a sua casinha. Não vão comprar terreno noutro local. É assim na zona do minifúndio, no Minho, no Douro, nas Beiras, em que o povoamento é disperso, consoante a propriedade dos terrenos, a Madeira não foge à regra.
Não têm razão para criticar, aqueles que por discordância política ou ideológica, arranjam argumentos para denegrir em vez de apoiar, neste momento difícil que a Madeira atravessa.
A resposta  está na forma como os Madeirenses encararam a situação e, apoiados pelo seu chefe, que teve uma atitude positiva e inteligente, ao não aceitar a Madeira como zona de calamidade, demonstrou inteligência e vontade de vencer, dando assim aos Madeirenses um exemplo a seguir.
A forma pronta como todos se lançaram na limpeza das ruas e do entulho e lamas que penetraram nos estabelecimentos comerciais da baixa do Funchal, são um exemplo a seguir por todos os portugueses que estejam empenhados em tirar este país da crise em que estamos atolados, e não a rejeitar empregos, porque é preciso trabalhar para no fim do mês o patrão ter dinheiro para poder pagar o salário.


Viana do Castelo, 2010-02-27
Manuel de Oliveira Martins  

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