quarta-feira, 2 de novembro de 2011

OS MALES DA «MOVIDA»


Hoje, li no Jornal de Notícias, que a Câmara Municipal de Viana do Castelo, apoia a proposta apresentada à autarquia, para revitalizar os espaços onde outrora funcionou a fábrica de chocolates «A Vianense”. Parece que está nas intenções dos promotores do projeto a instalação de uma unidade hoteleira que faça relembrar a história daquela fábrica em que o chocolate seja o tema de enfoque. É uma boa notícia.
No mesmo jornal era abordado ainda outro tema que preocupa as populações residentes na área da Ribeira do Porto, onde a «movida» noturna, fomentada e autorizada pela Câmara do Porto, está a transformar aquela zona num pandemónio, onde é impossível viver com o ruído pela noite dentro, a sujidade e o total desrespeito pela lei. É uma má notícia.
Aparentemente estes dois temas antagónicos (boa/má notícia) nada teem em comum, quer pela temática quer geográficamente. Na verdade teem muito em comum. Uma unidade hoteleira deve, para além de outros requisitos, estar situada numa zona sossegada que possibilite aos hóspedes pernoitarem tranquilamente e no dia seguinte acordarem satisfeitos.
Ultimamente, na cidade de Viana do Castelo, foi permitido a instalação de bares noturnos em zonas onde já existiam unidades hoteleiras, prejudicando o repouso dos moradores e dos hóspedes que nos visitam e deixando as ruas pejadas de lixo.
Aos promotores deste projeto hoteleiro, digno de louvor, aqui fica o alerta. Arranjem antecipadamente a garantia que não vão ser autorizados bares noturnos nas proximidades da unidade hoteleira que pretendem implementar.
Viana do Castelo, 2011-11-02
Manuel de Oliveira Martins

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SINAIS DE RIQUEZA

Quando vemos alguém, de quem conhecemos bem a origem dos seus rendimentos escassos, fazer vida de rico, gastando mais do que ganha, estranhamos e desconfiamos. A este respeito, o povo costuma dizer,«quem  cabritos vende e cabras não tem de alguém lhe vem».
Quem foi à Madeira há vinte anos atrás e lá vai agora, estranha a evolução verificada nestas duas décadas e questiona como é que é possível fazer tanto com tão pouco que a ilha tem ou produz. De onde vem o rendimento para se fazer tantas estradas e túneis, tantos investimentos em portos e aeroportos, tantas infraestruturas questionáveis em eficácia e prioridade, a ponto de nesta pré-campanha eleitoral,  o atual presidente do Governo Regional e candidato ao cargo, se gabar de inaugurar um feito e meio por dia.
Quando existem regiões do país tão desiguais em acessibilidades – como é o caso de Bragança – onde só há dias foi inaugurado o primeiro troço de auto-estrada, que de nada lhe serve por agora enquanto não fôr construído o túnel do Marão, enquanto noutras regiões se constroem auto-estradas a duplicar, e noutras túneis de utilidade duvidosa, não esquecendo as desigualdades entre o interior e o litoral, enquanto o nível de vida do povo da Madeira está acima da média nacional, algo vai mal.
Não está em causa os madeirenses viverem bem, mas sim viverem à custa dos sacrifícios dos outros que injustamente estão a ser espoliados dos seus salários, pensões e poucos direitos que ainda teem, para pagarem a fatura que outros fizeram - à grande e à francesa - sem olhar de onde vem o dinheiro, apelando e invocando a solidariedade.
Há muito que os governantes continentais sabiam desta situação, pelo menos deviam desconfiar, por que conheciam as verbas e os orçamentos regionais, mas faltava-lhes a coragem política para desmascarar esta situação, e o senhor Alberto jogou e gozou com a cobardia deles, aproveitando-se da fraqueza, e revertendo em favor da região da Madeira o baú do tesouro que surpreendentemente encontrou sem nada  fazer para o conseguir.
Os madeirenses teem de estar gratos ao senhor Alberto – por isso teem votado e vão continuar a votar nele – por que lhes proporcionou um nível de vida, invejável para a maioria dos portugueses. O rácio dos madeirenses que teem emprego no Governo Regional cifra-se em 40%. Não existe nada comparável a nível mundial, pelo menos que eu conheça, a não ser nalgum país do terceiro mundo, onde não existe outra solução, por imperativos político-institucionais.
Estes sinais de riqueza não são exclusivos da Madeira nem do senhor Alberto, ainda há bem pouco tempo, na outra região insular, o senhor César, fazendo apanágio do adágio popular – a César o que é de César – resolveu dar aos funcionários públicos um bónus, em nome da insularidade e da solidariedade. Isto de dar aquilo que não é nosso, é típico de alguns que deteem o poder, e próprio  daqueles que não sabem o quanto custa angariar o fruto do trabalho honesto, muitas vezes com esforço e suor sub-humanos.
Pelo que me é dado observar, e pela análise que faço ao processo autonómico das regiões em causa, e atendendo ao  poder democráticamente consentido e conseguido através do voto das populaçóes residentes, beneficiárias do mesmo, a solução que melhor serve às partes é a autonomia completa e real. A defesa da coesão nacional é uma utopia, como está bem demonstrado através das recentes notícias do buraco escondido das contas da Madeira e das imposições salariais nos Açores.
Viana do Castelo, 2011-09-21
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com

terça-feira, 16 de agosto de 2011

COMO VAI ESTE PAÍS ... (III)

Hoje, resolvi reviver tempos de infância, fui apanhar amoras silvestres como fazia quando tinha nove/dez anos.
O tempo, apesar de quente,  estava nevoento, nada convidativo a ir à praia, propício à apanha das saborosas amoras, que me fazem lembrar os despreocupados e felizes tempos da minha infância rural, passados numa aldeia beirã na encosta da serra do Arestal, uma das serras que constituem o maciço da Gralheira, donde se divisa o mar em dias límpidos.
Munido de sacos de plástico e um cesto para os colocar quando cheios, fui para a veiga da Areosa, em Viana do Castelo, onde infelizmente as silvas proliferam com abundância, fruto do abandono crescente do mundo rural e  de ricos terrenos de cultivo .
Quando apanhava as negras amoras, que me tingiam as mãos de púrpura, a escassos metros da estrada que liga Viana a Caminha, fui surpreendido pelos impropérios de uns miúdos de nove/dez anos que viajando dentro de um automóvel no sentido S/N, acompanhados pelos pais, se dirigiram a mim, gritando: - "gatuno, filho da ...", e outras blasfémias que nem ouso mencionar, por impróprias  e indígnas de gente civilizada. 
Mas, o que mais me indignou, sem sequer olhar para o carro (o desprezo é a melhor arma), foram as gargalhadas disparatadas da mãe, em tom jocoso, apoiando a iniciativa pouco louvável das crianças, em vez de as repreender e mandar calar.
Esta atitude deplorável, só revela falta de educação dos miúdos, mas principalmente daquela mãe que não teve o bom senso de mandar calar as inconscientes crianças, antes apoiou com gargalhadas trocistas,  trouxe-me à mente mil e um pensamentos que confluem para uma conclusão pessimista e nada animadora da sociedade futura.
O recurso ao insulto fácil, à violência, por parte daqueles que teem a missão de educar e ensinar, está a transformar os jovens em autênticos monstros, desprovidos de referências  e de valores orientadores que permitam desenvolver uma personalidade forte e com ética.
Não se pode tomar o todo pela parte, mas preocupa-me que, atitudes como esta e outras que tenho presenciado últimamente, como é o caso dos distúrbios no Reino Unido, de jovens de pouco mais de dez anos, venham a redundar numa sociedade selvagem, onde tudo é permitido, sem regras, sem controle. O que verdadeiramente está em causa é a democracia e a liberdade, em nome da qual, indevidamente as pessoas, sem educação e formação (como estas) se predispoem a tomar atitudes como esta, julgando-se com todos os direitos e sem deveres.
A maior parte sabe como surgiram as ditaduras. A crescente onda de violência que grassa em todo o mundo é preocupante e pode levar a que haja a tentação de enveredar por esses caminhos escuros que levam à ditadura.
Oxalá esteja enganado e não haja muitos exemplos como este que conduzem a sociedades sem controle e estimulem a apetência por regimes totalitários como forma (repugnante) de domínio radical da sociedade.


terça-feira, 9 de agosto de 2011

CHOQUE DE CULTURAS


Todos os dias somos confrontados com notícias preocupantes resultantes de confrontos étnico-religiosos provenientes de todo o mundo, mas especialmente do mundo ocidental, mais permissivo à inclusão de raças e etnias diferentes em consequência da liberdade democrática, apanágio das democracias ocidentais.
O fenómeno da globalização gerou no planeta Terra uma mobilidade humana sem precedentes na história da humanidade. Nem as grandes invasões dos povos bárbaros tiveram tal repercussão. A este fenómeno não são alheios os meios de comunicação, em que os transportes têem um papel preponderante, pelos fluxos migratórios que gera.
As grandes metrópoles mundiais acolheram esses fluxos migratórios que se instalaram em bairros (favelas) étnicos mantendo os seus costumes, tradições culturais e religiosas, formando núcleos étnico-culturais poderosos e temerosos. São exemplos os «hispânicos» nos E.U.A.,em especial em Nova York, em Miami, São Francisco, etc., os Cabo Verdianos em cidades europeias como Amsterdão, Lisboa, os Argelinos nas grandes cidades francesas, os turcos na Alemanha, os Asiáticos nas grandes cidades inglesas, etc, etc,.
Este fenómeno sócio-cultural e económico, difícil de explicar, poderá ter origem na necessidade de libertação do ser humano que aspira por novos valores, de liberdade e especialmente por melhores condições de vida que não encontra nas origens, sendo forçado a emigrar para onde pode usufruir delas.
Uma vez instalados nos países de acolhimento, raros são aqueles que se diluem nessas sociedades (os portugueses são um caso raro de homogeneização), constituindo núcleos culturais fechados, não permissíveis à intrusão dos nativos ou doutros grupos étnicos.
Como exemplos destas manifestações étnico-culturais temos, o caso do uso da «Burka» pelas mulheres islâmicas em França,  as mutilações genitais femininas em quase todo o mundo, os recentes confrontos nos bairros do Norte de Londres e outras cidades do reino Unido, etc,.
O mundo está em desiquilíbrio, económico, populacional e cultural, que se traduz numa instabilidade social de difícil solução. Enquanto não se der o equilíbrio das três variáveis, o mundo estará sempre ameaçado e em sobressalto.
A crise económica que vivemos, é talvez a variável que mais peso tem neste processo complexo, seguida da variável demográfica proveniente de excesso de população nos países asiáticos e falha nos países ocidentais. A variante cultural, embora com menos peso aparentemente, tem contudo uma influência imprevisível de contabilizar por que interliga com as outras duas.
Este desiquilíbrio mundial é fruto do sistema político de cariz capitalista que domina o mundo, com culpas para aqueles que se arvoraram em defensores da liberdade e contribuíram para o despertar e desestabilização de culturas, desajustadas ao mundo ocidental e impreparadas  social e culturalmente, na mira de obter dividendos económicos em proveito próprio, que  o tempo provou ter-se voltado o feitiço contra o feiticeiro, como a conjuntura económica actual é um testemunho disso.
Os E.U.A. estão a pagar o preço duma ambição desmedida e sem planeamento que conduziu a China a tornar-se, fruto de um potencial humano imenso,  numa superpotência mundial  que provocou um desiquilíbrio mundial difícil de superar nas próximas décadas, que está aniquilando a maior parte das economias, especialmente as grandes, entre elas a maior que vai ser ultrapassada e passar por maus momentos, com repercussões a todos os níveis, e a todos os continentes.
O equilíbrio demográfico vai ter  de ser feito, com guerras ou sem guerras. O estado actual da população a nível mundial é sustentável por mais uma ou duas décadas, depois entra em rutura e o resultado é imprevisível.
O choque cultural para reequilibrar o mundo é o mais difícil, senão impossível de conseguir. O atraso cultural entre os povos é enorme e desmotivador de qualquer tentativa consciente ou inconsciente para o atingir.
O cenário é negro. Devemos preparar-nos para ele, mental e emocionalmente, para resistirmos ao impacto violento que este desiquilíbrio nos vai trazer, mais breve do que imaginamos. Os indícios estão à vista.
Viana do Castelo, 2011-08-08
maolmar@gmail.com

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

COMO VAI ESTE PAÍS ... (2)

Os Serviços Municipalizados de Saneamento Básico de Viana do Castelo (SMSBVC), tiveram o cuidado e bom senso de avisar os moradores de várias ruas da cidade, entre as quais a minha, da remodelação que vão efetuar na rede de abastecimento de água, alertando para o condicionamento de trânsito e possíveis perturbações no fornecimento de água. Louvo esta atitude que já vai sendo usual por parte de alguns responsáveis.
Hoje, quando pretendia entrar em casa com a minha mulher e os meus netos, impacientes e a necessitar de cuidados primários, fui surpreendido com o portão automático não abrir. Calculei logo que se tratava de falta de energia elétrica e socorri-me do vizinho para poder entrar para o interior e tentar abri-lo manualmente, o que não consegui devido ao desgaste da chave de abertura manual.
Pelo mesmo processo que entrei, assim entraram a minha mulher e os meus netos, solucionando o impedimento momentâneo, mas incómodo.
Pelo vizinho, soube, que a máquina que se encontra a cerca de 20 metros a quebrar o passeio,  para abrir uma vala para a passagem dos tubos de água, cortou um cabo elétrico que alimenta as residências da área.
Há dias, no princípio do mês de julho, quando começaram as obras, as crianças dum infantário tiveram de ser evacuadas, por que a máquina cortou um tubo de gás natural. O caso podia ter sido grave e de proporções inimagináveis.
Estes e outros inconvenientes, como por exemplo partir os passeios e esventrar as ruas a todo o momento, sempre que é necessário uma intervenção numa das redes (PT, Gás, EDP, água, saneamento, etc), deixando quer os passeios quer as ruas desniveladas causando problemas aos peões e aos próprios automóveis na passagem, especialmente de inverno criando poças incómodas podia e devia ser evitado.
Há cerca de 40 anos, numa ida a terra, na Noruega, para abastecimento do navio da pesca do bacalhau em que andava embarcado, fiquei agradávelmente encantado com a forma como era feita uma rua. Pelo centro da futura artéria havia uma vala (que se viria a transformar numa galeria subterrânea) com cerca de 2,5 metros de profundidade por  2 metros de largura destinada a passar todas as redes que mencionei. Este pormenor, de uma importância estratégica, económica, etc., soluciona os inconvenientes de avarias e remodelação das respetivas redes.
O investimento inicial é maior mas compensa, não só as redes porque podem resolver mais eficazmente as avarias sem causar transtornos, como aos utentes que não estão sujeitos aos incómodos e perigos que sempre acarretam os trabalhos de abrir e tapar as valas que as diversas redes abrem. Por vezes acontece que, com pequenos intervalos de tempo, acaba uma de intervir e vem logo outra, esventrar a rua, tornando-a um montão de pedras e terra que esvoaça  no verão e enlameia no inverno.
Não estou a acusar diretamente os SMBSVC, o caso é nacional. Não se pode remodelar tudo de um dia para o outro, ou até mesmo numa geração. Penso que é necessário legislar para futuro de forma que as novas ruas ou remodelações de ruas antigas, sejam feitas nestas ou outras condições mais modernas que as que vi há 40 anos na Noruega.
Não quero sequer pensar que este atraso se deve a interesses ocultos que induzem o legislador a não ter a ousadia de apostar na modernização e melhoria da qualidade de vida das populações. Seria grave.
Viana do Castelo, 2011-07-29
maolmar@gmail.com

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

COMO VAI ESTE PAÍS ... (I)


Ontem tinha uma carta para selar e, ao passar na estação dos correios da Praça do Alto Minho, cerca das 14 horas e 30 minutos,  quando me dirigia para o meu «passatempo»  (voluntariado na biblioteca da Paróquia Nª. Sra. de Fátima), como  se tratava apenas de um selo, dirigi-me à máquina fornecedora de selos que se encontra no exterior, mas, mais uma vez, a informação «fora de serviço». Como no interior se encontrava muita gente, cujo atendimento iria certamente levar mais da meia hora que dispunha, antes de abrir a porta da biblioteca, resolvi deixar para o regresso essa tarefa.
Depois das duas horas de voluntariado que faço diáriamente na biblioteca, organizando, classificando e catalogando livros, regressei pelo mesmo caminho a casa, com o objetivo de, ao passar pela estação dos correios, selar a carta, estivesse o movimento que estivesse. A carta tinha de seguir naquele dia.
No dispensário de senhas tirei o número 315 quando no visor eletrónico indicava que estava a ser atendido o detentor(a) do número 299. Apesar dos muitos utentes que se encontravam à entrada, consegui um lugar sentado num dos dois bancos disponíveis para atenuar a espera frequente dos utentes. Esperei 44 minutos até que chegasse a minha vez.
Quando chegou a minha vez (é sina minha), a funcionária, dentre as três ou quatro que estavam no atendimento, pediu desculpa, mas tinha que ir fechar a porta por que estava na hora do fecho da estação (18 horas).
Depois de atendido, perguntei qual a razão que a máquina dispensadora de selos está sempre fora de serviço. Respondeu-me da mesma forma que outras vezes, outras funcionárias, costumam responder, «uns malvados avariam a máquina».
É inadmissível esta resposta. Se o local onde se encontra a máquina não cumpre com os objetivos para que foi colocada a máquina, então, retire-se a máquina do local para não enganar as pessoas, e coloque-se noutro sítio resguardado das atrocidades de certos energúmenos que persistem em fazer mal.
Dentro da estação, logo à entrada, há espaço para colocar a máquina que embora não cumprindo na íntegra os objetivos da sua aquisição (fornecimento de selos fora e dentro dos horários), pode perfeitamente satisfazer as necessidades daqueles que mesmo dentro do horário só necessitam de um selo, evitando formar filas, tempos intermináveis de espera desesperando os utentes, em suma, prestando um mau serviço.
No final, como o selo que tinha pedido, era de correio azul, a funcionária deu-me um conselho: -para comprar envelopes de «correio azul» que ficam mais baratos que comprar o selo individualmente e o envelope em separado.
A sugestão talvez me venha a ser útil no futuro, face ao que acabo de descrever, mas até parece uma promoção ao «correio azul» que não é mais expedito  que o «correio normal» como já tive ocasião de verificar.
Em pleno século XXI precisamos de um serviço postal mais eficiente do que no tempo dos nossos avós.
Viana do Castelo, 2011-07-29
maolmar@gmail.com

domingo, 24 de julho de 2011

RÉSTEAS DE ESPERANÇA

Há dias, não posso precisar qual, a meio da noite, acordei e não mais consegui conciliar o sono. Talvez o facto estivesse ligado com um recente tratamento hospitalar, a que fui submetido, ou não. Eu, que não sou muito amante de televisão, resolvi ligar para um dos canais televisivos noticiosos (SIC NOTÍCIAS), onde decorria uma entrevista a um grande senhor da indústria petrolífera, o Engenheiro Manuel Ferreira de Oliveira, CEO da GALP, recentemente considerado um dos mais importantes gestores desta área a nível mundial, na esperança de «chamar» o sono.
O entrevistador era o jornalista Santos Ferreira, especialista em temas económicos daquela estação televisiva. Apanhei a entrevista a meio, mas percebi que se tratava de dar a conhecer por dentro e por fora essa grande empresa energética nacional, o seu passado, presente e perspectivas futuras.
Dentro da parte final da entrevista, o que mais gostei de ouvir do Eng. Ferreira de Oliveira, foi a aposta da empresa na formação contínua dos seus quadros e, especialmente, quando se referiu que naquela tarde, antes da entrevista, tinha-se encontrado com um grupo de recém licenciados que entraram para a empresa, e verificado que todos eles se encontravam melhor preparados (também foram recrutados entre os melhores ), do que ele quando terminou o curso há 40 anos.
Mais adiante, o mesmo entrevistado, frisou que Portugal dispoe de um número bastante significativo de gente muito bem formada e qualificada,  pelas nossas universidades e institutos, que estão a ser cobiçados pelo estrangeiro, como recentemente delegações de países (Alemanha e Noruega –desconheço se mais algum), se deslocaram a Portugal, a Lisboa e Porto, para recrutar essa massa “cerebral” que uma vez nesses países, e bem orientada, vai constituir uma mais valia para o desenvolvimento desses mesmos países.
Fiquemos por aqui, por que este tema levaría-nos a muitas considerações.
No domingo, dia 16 de Julho, ainda a recuperar do tratamento a que fui submetido, casuísticamente, ao fazer pesquisa televisiva (recuso-me a usar o termo inglês – embora saiba que mais tarde ou mais cedo vai constituir um anglicismo da nossa língua), a mesma estação televisiva transmitia entre as 21 horas e as 21 horas e 40 minutos um documentário, integrado dentro do noticiário, sobre investigadores portugueses, que segui com toda a atenção. Abordava jovens cientistas desde a física, bioquímica,  química, química analítica, biologia, etc, jovens com idades compreendidas entre os trinta  e trinta e seis anos, que estão a desenvolver e a pesquisar nos laboratórios das instituições em que estão inseridos, projectos inovadores e úteis à humanidade, como a descoberta do genoma das células cancerígenas (que me interessa particularmente), perspetivando a cura  e prevenindo a doença.
Outro projecto, que levou um jovem cientista em química analítica a declinar duas ofertas no estrangeiro e a permanecer numa universidade portuguesa, baseava-se na descoberta de um material novo que vai permitir, a uma empresa de renome mundial, dinamizar um projecto inovador que vai revolucionar a indústria informática.
São, como vemos, perspectivas de esperança, latentes no nosso país, que precisamos aproveitar.
O investimento, que durante estes trinta e poucos anos de democracia (apesar de quase insignificante), está a dar os seus frutos. Não estamos em condições de os desperdiçar. O país precisa deles. Estes investimentos culturais, não são imediatos, nem palpáveis ou quantificáveis, eles constituem uma riqueza incomparável, que é preciso aumentar, estimular e acarinhar.
Fiquei triste, no final, quando vários deles referiram as dificuldades por que passaram durante 10 a 12 anos, para chegarem ali, valendo-lhe, na maior parte, a ajuda dos pais e familiares. Só ao fim desses longos anos de estudo e trabalho, tiveram o primeiro contrato e puderam fazer o primeiro desconto para a Segurança Social. Muitos deles não puderam constituir vida familiar, abdicando desse direito de todo o ser humano, por que as condições económicas não lhe permitiam. Um deles referiu que existe nos jovens licenciados a sair das universidades portuguesas, matéria prima de melhor qualidade que em algumas universidades estrangeiras, que não está a ser aproveitado por falta de condições económicas, de mecanismos de apoio, que estimulem os recém licenciados, a enveredar pela área de investigação. A falta de carinho, o reconhecimento, pelo trabalho desenvolvido, são outros fatores a ter em conta.
É necessário apostar na massa cinzenta do nosso país. É neccessário dar-lhes condições para crescer. É necessário legislar nesse sentido. O mundo desenvolve-se a um rítmo alucinante. Não podemos perder a rota que conduz ao futuro, iluminemo-nos com os nossos avós, que não descansaram  enquanto não descobriram o caminho marítimo para a Índia.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

EXEMPLO

É através do exemplo que educamos os nossos filhos. O modelo de educação serve para eles copiarem. Um pai/mãe procuram dar aos filhos bons exemplos para eles seguirem ou imitarem.
Em tudo na vida o exemplo é referido para significar algo que devemos seguir para atingir um fim. Seja em casa, no trabalho, no desporto, no lazer, a palavra exemplo está sempre presente.
Na presente conjuntura política, o novo primeiro ministro Passos Coelho, no primeiro acto político após tomar posse, o Conselho Europeu de Chefes de Estado e  Primeiros Ministros, resolveu deslocar-se em classe turística em vez de classe executiva.
Este acto foi elogiado por uns e contestado por outros. Na situação económico-financeira em que o país está mergulhado esta atitude só pode ser louvada. Aqueles que a criticam não estão a agir de boa fé.
Com este exemplo o primeiro ministro pretendeu certamente dar o exemplo do que deve ser feito. Em primeiro lugar para os membros do governo, depois para os gestores públicos e funcionários públicos e por último para todos os portugueses em geral apontando o caminho para sairmos da crise, evitando despesismos desnecessários, rumo à poupança.
Nos últimos anos habituaram-nos com exemplos enganosos a consumir desregradamente, a recorrer ao crédito, a esbanjar. Esta cultura consumista instalou-se de tal forma nos hábitos dos portugueses que se tornou para a maioria uma obcessão consumir, consumir... sem olhar a meios, dando aos nossos filhos maus exemplos.
Em poucos anos tornamos os nossos filhos obesos devido aos excessos alimentares, à má nutrição, levados pelos exemplos perniciosos da fast food. 
O consumismo trouxe-nos toneladas de lixo incomportáveis dando origem a problemas ambientais irresolúveis.
O facilitismo com que encaramos as questões essenciais da vida levaram-nos à irresponsabilidade.
Um sem número de exemplos podíamos apontar para dizer que é através do exemplo, nem sempre mais adequado e correcto, que a vida se está a transformar numa incontornável ficção e nos leva para o abismo.
O país está a precisar de mais exemplos que apontem para boas práticas, do que deve ser feito para conduzir o país à libertação dos espartilhos em que a sociedade está amarrada.
O exemplo de cidadania deve ser trabalhado e apontado como o exemplo a seguir para criar uma sociedade mais justa, mais solidária, mais tolerante, mais humana, mas ao mesmo tempo mais exigente, mais rigorosa e disciplinada, mais responsável. Só assim, dando passos firmes e sólidos, poderemos enfrentar o futuro com esperança.
Tal como uma árvore que necessita de raízes bem formadas e resistentes para suportar as tempestades, também o país precisa de criar bases sólidas em que assente a sociedade, para se defender das crises  de qualquer natureza que possam assolar essa mesma sociedade.
Costuma-se dizer que a história não se repete, mas podemos dela extrair lições que nos são úteis. Já demonstramos que quando queremos conseguimos, como quando no tempo dos descobrimentos.
Não deixemos fugir esta oportunidade e sigamos os bons exemplos para nosso bem e dos nossos descendentes.  

domingo, 26 de junho de 2011

ENCRUZILHADA

A Europa está numa encruzilhada da qual dificilmente sairá. A construção da União Europeia (U.E.) tem sofrido avanços e recuos, mais destes do que daqueles e, apesar do nome, nada tem de união. O ritmo elevado em que o mundo avança, não se compadece com a marcha lenta a que esta pretensa união caminha.
Os últimos acontecimentos ocorridos na Grécia, são um teste à coesão da U. E. no seu todo. A U.E. tem de avançar pelo menos ao mesmo ritmo que o mundo avança, sob pena de perder a corrida e nem se chegar a concluir o essencial para a sua existência.
Há muito que se vem notando um afastamento dos países mais ricos dos mais pobres, denotando uma atitude pouco solidária, minando a coesão que deve existir numa comunidade deste tipo. Os encontros entre os representantes das duas economias mais importantes da comunidade europeia (Alemanha e França), à margem das reuniões normais entre todos os estados membros, são uma prova inequívoca de que não existe um pensamento e entendimento comum relativamente às grandes questões.
A Grécia não tem procedido bem, é um facto, mas se for abandonada neste momento pode deitar tudo a perder. Não se trata agora de arrastar com ela os países em dificuldades, caso da Irlanda e Portugal. Com o abandono da Grécia pela União Europeia é o fim do sistema monetário, é o descalabro e desconfiança total das instituições financeiras afectas ao sistema monetário do qual o Banco Europeu é o principal visado.
A U.E. encontra-se numa encruzilhada de difícil resolução, fruto do egoísmo e falta de coesão que alguns países demonstraram, arrogando-se em donos da «União» procurando liderar o processo, intimidando os países em dificuldades, dando origem a agitação social, principalmente na Grécia, nada benéfica para manter a estabilidade no seio da «União» que se deseja mais do que nunca, agora que vão ser pedidos sacrifícios aos que mais sofrem e mais precisam.
Cabe aos órgãos de decisão da comunidade fazerem todos os esforços para manterem vivo o espírito da «União», apelando à solidariedade entre todos e exigindo aos países em dificuldades o cumprimento integral das ajudas para a sua recuperação.
Neste momento difícil do fenómeno da globalização em que o mundo se está tentando reajustar a novos cenários, só uma união forte entre estados pode sobreviver ao impacto brutal em que a economia mundial  transformou o mundo.
Novas transformações e cenários se apresentam ao nível alimentar, ambiental, ecológico, étnico e até espiritual (religioso), para que isoladamente um país possa enfrentar sozinho, sem parcerias e uniões que criem sinergias necessárias para atacar essas confrontações e desafios.
Todos esperamos que impere o bom senso tendo por meta o bem da humanidade.