quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SINAIS DE RIQUEZA

Quando vemos alguém, de quem conhecemos bem a origem dos seus rendimentos escassos, fazer vida de rico, gastando mais do que ganha, estranhamos e desconfiamos. A este respeito, o povo costuma dizer,«quem  cabritos vende e cabras não tem de alguém lhe vem».
Quem foi à Madeira há vinte anos atrás e lá vai agora, estranha a evolução verificada nestas duas décadas e questiona como é que é possível fazer tanto com tão pouco que a ilha tem ou produz. De onde vem o rendimento para se fazer tantas estradas e túneis, tantos investimentos em portos e aeroportos, tantas infraestruturas questionáveis em eficácia e prioridade, a ponto de nesta pré-campanha eleitoral,  o atual presidente do Governo Regional e candidato ao cargo, se gabar de inaugurar um feito e meio por dia.
Quando existem regiões do país tão desiguais em acessibilidades – como é o caso de Bragança – onde só há dias foi inaugurado o primeiro troço de auto-estrada, que de nada lhe serve por agora enquanto não fôr construído o túnel do Marão, enquanto noutras regiões se constroem auto-estradas a duplicar, e noutras túneis de utilidade duvidosa, não esquecendo as desigualdades entre o interior e o litoral, enquanto o nível de vida do povo da Madeira está acima da média nacional, algo vai mal.
Não está em causa os madeirenses viverem bem, mas sim viverem à custa dos sacrifícios dos outros que injustamente estão a ser espoliados dos seus salários, pensões e poucos direitos que ainda teem, para pagarem a fatura que outros fizeram - à grande e à francesa - sem olhar de onde vem o dinheiro, apelando e invocando a solidariedade.
Há muito que os governantes continentais sabiam desta situação, pelo menos deviam desconfiar, por que conheciam as verbas e os orçamentos regionais, mas faltava-lhes a coragem política para desmascarar esta situação, e o senhor Alberto jogou e gozou com a cobardia deles, aproveitando-se da fraqueza, e revertendo em favor da região da Madeira o baú do tesouro que surpreendentemente encontrou sem nada  fazer para o conseguir.
Os madeirenses teem de estar gratos ao senhor Alberto – por isso teem votado e vão continuar a votar nele – por que lhes proporcionou um nível de vida, invejável para a maioria dos portugueses. O rácio dos madeirenses que teem emprego no Governo Regional cifra-se em 40%. Não existe nada comparável a nível mundial, pelo menos que eu conheça, a não ser nalgum país do terceiro mundo, onde não existe outra solução, por imperativos político-institucionais.
Estes sinais de riqueza não são exclusivos da Madeira nem do senhor Alberto, ainda há bem pouco tempo, na outra região insular, o senhor César, fazendo apanágio do adágio popular – a César o que é de César – resolveu dar aos funcionários públicos um bónus, em nome da insularidade e da solidariedade. Isto de dar aquilo que não é nosso, é típico de alguns que deteem o poder, e próprio  daqueles que não sabem o quanto custa angariar o fruto do trabalho honesto, muitas vezes com esforço e suor sub-humanos.
Pelo que me é dado observar, e pela análise que faço ao processo autonómico das regiões em causa, e atendendo ao  poder democráticamente consentido e conseguido através do voto das populaçóes residentes, beneficiárias do mesmo, a solução que melhor serve às partes é a autonomia completa e real. A defesa da coesão nacional é uma utopia, como está bem demonstrado através das recentes notícias do buraco escondido das contas da Madeira e das imposições salariais nos Açores.
Viana do Castelo, 2011-09-21
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com