terça-feira, 25 de agosto de 2009

MULETAS

Segundo o Grande Dicionário Enciclopédico, MULETA (cast. muleta). s. f. Bordão com uma travessa na extremidade superior, que serve de apoio aos coxos ou tolhidos das pernas.
Muleta era também o nome dado a uma antiga embarcação de pesca à vela utilizada pelos pescadores do Seixal na pesca de arrasto no rio Tejo.
Estes significados estão correctos, porém, em sentido figurativo costuma-se aplicar o termo muleta como o apoio dado a alguém para atingir um determinado objectivo, profissional, social, económico, etc.
A sociedade portuguesa, apesar de uma grande melhoria verificada nos últimos tempos, vive ainda vinculada a este vício que se instalou nos diversos sectores e níveis sociais e culturais. Não posso precisar em que época começou este fenómeno que tem persistido nos usos e costumes. É cultural e foi relevante e decisivo em certas épocas e momentos da nossa história.
Ainda há pouco tempo, antes do 25 de Abril, quem não tivesse uma muleta (vulgo cunha), dificilmente conseguia arranjar um emprego, mesmo que tivesse algumas qualificações, académicas ou não.
Preteria-se o mérito e o valor pessoal em detrimento da "cunha" feita pelo sr. Dr..., pelo sr. General..., pelo sr. Almirante..., etc.
Muitos da minha geração ou foram vítimas ou utilizaram esse esquema. Os primeiros tornaram-se naturalmente contestatários, foram perseguidos e presos, mas, pós 25 de Abril, foram responsáveis político-partidários, chegando alguns deles a desempenhar altos cargos governamentais. Os segundos conseguiram cargos graças a essas "ajudas" milagrosas, foram alguns deles responsáveis pelo atraso a todos os níveis a que chegou o nosso país.
Não é promovendo o medíocre que se consegue progredir, antes é, apoiando e incentivando o inteligente e criativo que se obtém o sucesso.
As muletas foram e continuarão a ser assim um obstáculo ao desenvolvimento e progresso da humanidade.
Ninguém pode imaginar qual teria sido o desenvolvimento, social, económico e cultural do nosso país se esse estigma que o antigo regime protegeu e incentivou politicamente através do compadrio político não tivesse existido. Quem fosse a favor do regime estava garantido quem fosse contra estava tramado.
Não podemos avaliar, mas podemos comparar com os países que não foram vítimas deste sistema vicioso e analisarmos as diferenças culturais, sociais e económicas resultantes dessa actuação.
Actualmente, esse estigma que nos persegue, ainda está latente em alguns sectores da sociedade, pronto a proliferar se alimentado, como um cancro da sociedade, impedindo-a de atingir metas e objectivos que conduzam a sociedade aos mais altos patamares do desenvolvimento cultural, social e económico.
Neste dealbar do século XXI, não podemos cair na tentação, sob pena de ficarmos paralisados, tornando-nos nos trogloditas deste século.
Saibamos aprender a lição que a história nos ensinou.


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