sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O JUSTO PELO PECADOR

Por mais que tente abstrair-me, da verborreia política que alguns comentaristas e opinadores que proliferam neste país, não sou capaz de ficar indiferente a certos comentários, que pretendem justificar a situação a que chegamos.
A nossa memória é curta, esquecemo-nos fácilmente, relegando para as calendas coisas que foram importantes e determinaram (e determinam) o nosso futuro.
A maioria dos portugueses já se esqueceu dos « jobs for the boys», como o remédio milagroso para solucionar o problema do desemprego já então reinante.
O Estado tinha nessa altura ao serviço um contingente de pessoal eventual e/ou assalariado que era recrutado consoante as necessidades sazonais.
A «inteligentia» dos governantes da altura, confrontados com a pretensa «abundância» dos fundos comunitários, e tocados por um suposto sentimento altruista, trataram de contratar definitivamente esse pessoal eventual e/ou assalariado. Foi um encargo para os cofres do Estado considerável, que se repercutiu nos anos subsequentes, engrossando a fatura pública.
Dizia-me um amigo nessa época, a propósito das concessões feitas pelos governantes, a certas classes sociais dominantes que tinham poder reivindicativo: - «É melhor que o dinheiro esteja no nosso bolso do que no Estado».
O meu amigo tinha razão, ele que pertencia a uma dessas classes com poder reivindicativo, já o tem no bolso, e agora que temos de pagar esses desmandos cometidos, ele pagará ou não a fatura.
Um comentador que prezo e escuto com atenção, por que é sério e ponderado, dizia um dia destes no canal público de televisão, que a solução para o emagrecimento das gorduras do Estado, está na coragem dos políticos para despedirem 100.000 funcionários que o Estado tem a mais, os tais cujo emprego foi criado virtualmente sem necessidade, só para satisfazer compromissos partidários.
Perante este cenário, não vejo que em Portugal existam governantes com essa coragem e só lamento que continuem a apostar em soluções injustas, obrigando o justo a pagar pelo pecador.

Viana do Castelo, 2012-10-05

Manuel de Oliveira Martins


segunda-feira, 17 de setembro de 2012


FÁBULA DO AGRICULTOR

Dois agricultores em estado de desespero: - um resolveu cavar a terra, plantar e produzir, outro decidiu esperar que os benefícios o viessem ajudar. No final, o que produziu colheu enquanto o outro continuou à espera dos subsídios e, como tinha fome, pediu ao que produziu que lhe desse de comer, ao que o outro anuiu, num gesto solidário.
Esta fábula li-a há muito tempo na minha infância, não sei onde, mas ficou-me gravada na memória e adapta-se ao momento presente.
Com a adesão à C.E.E. (atual U.E.) muita gente pensou que depois do fim do Império (que nunca chegou a ser) tinhamos encontrado a galinha dos ovos de ouro que nos manteria a desfrutar as delícias do belo clima que temos, sem fazer «patavina». Passados 27 anos da adesão ao «clube dos ricos», essa mesma gente continua a pensar da mesma forma e a exigir dos que trabalharam que os sustentem e lhes matem a fome.
A solidariedade tem limites, e os países que foram emprestando dinheiro para nós desbaratarmos terminou. Também eles estão a esgotar o celeiro e, com receio de passar fome, já não emprestam de qualquer maneira, exigem garantias para o empréstimo. As garantias são as que qualquer hipotecário exige como retrocesso da quantia emprestada.
Temos que poupar mais e gastar menos para liquidar o empréstimo se queremos a restituição do bem hipotecado – o país.
As condições contratuais foram estabelecidas com exigência e rigor pelos que emprestaram. Aqui pode-se questionar se foram as melhores condições, foram as possíveis, não estavamos em condições de exigir mas de aceitar.
Passado quase um ano deste acontecimento, que marcará indelevelmente a história do nosso país, ainda há pessoas que em vez de produzir, pelo menos para comer (aceitarem o que o mercado de trabalho tem para oferecer), ainda estão à espera dos subsídios e da solidariedade daqueles que produzem.
Fala-se em revolta, contesta-se por que não há emprego (é um facto), mas será que aqueles que deitaram as sementes à terra, produziram e por fim se viram expoliados dos seus rendimentos em nome da solidariedade, também não teem direito à contestação, à revolta?
Com tanta fome e tanta falta de emprego, existe muito trabalho para fazer, é preciso que cada um se capacite  que o maná não cai do céu, mas do trabalho que cada um produz e não do que consome, como parece que alguns preconizam.
Viana do Castelo, 2012-08-15
Manuel de Oliveira Martins

sábado, 15 de setembro de 2012


EM NOME DA LIBERDADE
Por tudo e por nada se invoca a liberdade. Em nome dela se cometem as mais diversas atrocidades e se destroem as mais elementares formas que a constituem.
Só quando se perde a liberdade é que se lhe dá verdadeiro valor. Aqueles que se veem privados dela, estimam-na e preservam-na com denodo e admiração, os outros normalmente usam-na como um bem inesgotável.
É necessário praticarmos a liberdade em todos os atos da nossa vida, dessa forma estamos a cimentar os alicerces desse grandioso edifício que se chama liberdade e que o povo Americano simbolizou com uma estátua à entrada da baía de Hudson.
Miguel Sousa Tavares disse numa entrevista à Notícias Magazine em 13 de maio de 2012 (n.º 1042), [a liberdade] “não se compra nem sai no euromilhões, demora uma vida a conseguir”. É de pequenino, nos mais singelos atos que praticamos, que se começa a construir esse grande edifício. Os pais, professores e sociedade em que vivemos, têm um papel importante na formação desse conceito que à medida que crescemos se vai tornando real e ao mesmo tempo intuitivo.
O mesmo entrevistado dizia ainda que “ os portugueses já perceberam que têm de mudar de vida, mas ainda não entenderam o que correu mal”. Eu digo ao contrário: os portugueses já descobriram o que correu mal, mas, como a avestruz, ainda não entenderam que têm de mudar de vida.
Todos já percebemos que gastamos acima das nossas posses, que nos deixamos levar pelo consumismo, veja-se o aumento anormal da produção de lixo, como indicador do consumo - além de outros - para termos uma ideia geral do despesismo que grassa na sociedade.
Usa-se e deita-se fora, alimentando uma economia fácil e sem consistência que nos leva ao abismo.
Um exemplo concreto desse fenómeno, é o caso dos telemóveis que invadiu a sociedade portuguesa duma forma galopante, a ponto da média por pessoa ter chegado a ultrapassar a unidade.
 Como este, muitos outros exemplos poderiam ser apontados, mas o que tarda a acontecer, embora já se verifiquem pequenos índices de restrição ao consumo, é a mudança de hábitos que em nome da liberdade se foram adquirindo, inconsistentemente.
Viana do Castelo, 2012-08-20
Manuel de Oliveira Martins

terça-feira, 11 de setembro de 2012


ABSENTISMO/ PRODUTIVIDADE

A relação entre estas duas variáveis económicas, está diretamente ligada ao estado atual do país.
A libertação do jugo pesado que amordaçou o povo durante 48 longos anos, despoletou uma onda incontrolada de «libertinagem» (no bom sentido) que nenhum governo soube ou teve a coragem de enfrentar e disciplinar, no interesse do país, que o mesmo é dizer, no interesse de todos.
Todos os que já eram adultos (à época), assistiram ou tomaram parte ativa nos processos revolucionários pós o 25 de Abril de 1974 (em que o poder quase ia caindo na rua), sabem como era antes e como foi depois.
Um prenúncio desse clima de instabilidade, tive-o no  próprio dia da revolução e nos dias que se lhe seguiram. O navio «São Jorge», um dos últimos bacalhoeiros da pesca à linha, tinha saído de Lisboa no dia 22 de Abrilde 1974. O 25 de abril deu-se quando navegávamos no canal de São Jorge, entre as ilhas açoreanas de São Jorge e as do Pico e Faial. A euforia, a alegria, o entusiasmo, invadiu toda a tripulação logo que o capitão deu a Boa Nova, regozijando-se com tal acontecimento, que há muito era desejado.
Daí em diante o capitão não mais teve mão da tripulação que anárquicamente punha e dispunha. Faltaram ao serviço de vigia, assaltaram o paiol dos mantimentos e negaram-se a arriar os botes e ir para a pesca, numa atitude de: - quem manda agora somos nós, vocês, os oficiais, passam a moços e nós é que comandamos.
Esta atitude impensada, fruto da euforia descontrolada e desmedida, não foi avante por que não era sustentada nem tinha fundamento. Nós (os oficiais) também eramos cidadãos portugueses, com os mesmos direitos e deveres, que, como eles, ambicionávamos a liberdade, que durante tantos anos nos fora cerceada. O facto de os comandarmos não era sinónimo de prepotência ou despotismo, tão só de uma hierarquia necessária em qualquer organização bem sucedida.
A conclusão a que cheguei, é que todo este frenesim, era fruto de uma ignorância a que o Estado Novo tinha devotado a classe piscatória, levando-os a agir com o coração e não com a razão e inteligência porque durante muitos anos os tinha ostracizado e mantido analfabetos por interesse.
Era mecessário tirar o povo desta situação atrasada e miserável para que o país pudesse progredir social, económica e culturalmente. Era forçoso investir no povo, dando-lhe formação e conhecimento para que pudesse discernir bem no seu próprio interesse e do paÍs.
Fruto da falta de discernimento e de conhecimento, foram tomadas pelos tripulantes do navio «São Jorge» e doutros navios que se lhe juntaram em St. John’s, posições extremadas que redundaram na tomada de posição, dos interesses ligados ao armamento, mandarem regressar os navios a Portugal face ao impasse das negociações.
Como resultado deste absentismo a produtividade foi fraca. A maior parte do tempo foi passada em terra, em lutas  e reivindicações estéreis que no final redundaram em prejuízos para os tripulantes que dependiam do produto da pesca.
Como sempre acontece em situações semelhantes, paga o justo pelo pecador e, os que sempre cumpriram (caso dos oficiais e pessoal da cozinha) que desempenharam as suas funções  da mesma forma, em obediência à segurança da navegação e à alimentação que era necessário confecionar, foram as vítmas dos primeiros dias de liberdade.
Sempre fui um defensor da liberdade desde que comecei a ter um sentido cívico, político e patriótico, inspirado na figura carismática do General Humberto Delgado, «o General sem medo», como era conhecido pelo comum dos portugueses.
Tinha os meus 10 anos de idade quando pela primeira vez e pela mão do meu pai, assisti a um comício durante a campanha para a Presidência da República em que o General Humberto Delgado era o candidato opositor ao candidato do regime o Almirante Américo Tomás.
Desde essa altura que cimentei, passo a passo, a minha formação política, cívica e patriótica, alinhando pelos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade.
O que acabo de referir, é tão sómente para não criar dúvidas quanto ao que vou escrever a seguir, embora o meu comportamento não necessite de justificação.
Por educação (berço) por formação (escola) sou pela disciplina e pelo rigor, tolerando o que é tolerável e exigindo o que é exigível. Este foi sempre o lema do meu comportamento ao longo dos 33 anos em que tive ao meu encargo funções de comando de homens.
Pus sempre em primeiro lugar o ser humano e, desta forma, granjeei amigos entre eles, que ainda perduram, passados muitos anos em que, por imperativos profissionais, a vida nos separou.
A minha atividade profissional enquanto oficial de navios de pesca e, muito por força dela, tinha como meta alcançar sempre o máximo - que era carregar o navio no mais curto espaço de tempo. Desta forma, e por força do contrato de trabalho, quanto mais pescasse mais ganhava e o mesmo se aplicava aqueles que estavam sobre a minha alçada.
Todos a bordo tínhamos de estar em sintonia para conseguir os objetivos que nos propunhamos – carregar o navio.
A relação trabalho/produtividade era importante – apesar de nem sempre ser positiva – contudo, uns e outros (chefes e subordinados) não toleravam o absentismo dos que por força da sua natureza  se esquivavam ao trabalho.
O resultado final era quase sempre o esperado, para satisfação de todos, que regressavam a suas casas com o sentimento do dever cumprido e um pecúlio significativo pelo trabalho praticado.
Portugal está na cauda dos países onde o absentismo é maior e os índices de produtividade são dos mais baixos. O trabalhador português no estrangeiro, é considerado um dos melhores, atingindo índices de produtividade elevado. A que se deve esta discrepância?
Tenho ouvido várias explicações, nem sempre plausíveis  e que se enquadrem com a política do trabalho. Não sou sociólogo nem conheço nenhum estudo que explique este fenómeno, contudo, atrevo-me a dizer que o trabalhador português sente-se bem com uma liderança firme e exigente mas que em troca lhe ofereça segurança de emprego e de salário justo. Esta foi a minha política de atuação ao longo da minha vida, com a qual consegui bons resultados.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O BEM QUE FAZ PELO BEM QUE FICA

Em matéria de educação, e apesar dos modernos pedagogos defenderem métodos  mais  adequados às novas realidades, continuo a ser apologista do método como fui educado, em que prevalecia a disciplina e o exemplo.
Ao longo da minha vida, os ensinamentos que recebi em casa e na escola, marcaram profundamente e pela positiva, a minha conduta humana e social.
A este propósito, lembro-me de dois acontecimentos passados na minha infância e que exemplificam a forma como os meus pais exerciam com mestria, o múnus educacional que lhes estava destinado.
Apesar de vivermos a cerca de uma dezena de quilómetros da então «capital do calçado», existiam poucas lojas de venda deste produto. Os sapatos eram feitos por encomenda no sapateiro da aldeia, como se encomendavam os fatos e calças ao alfaiate, as saias à costureira, etc. Havia nesse tempo ainda uma série de artes e ofícios que complementavam a ruralidade das aldeias do Estado Novo nos meados do século passado.
Quando precisavamos de um par de sapatos, quer eu quer o meu irmão, o meu pai acompanhava-nos à oficina do mestre sapateiro. Normalmente acontecia aos domingos, no fim da missa. Depois do meu pai falar com  o sapateiro, lá íamos pousar os pés na folha de mataborrão, em pé, com todo o peso, para vincar bem a planta do pé. No fim da impressão pedonal o meu pai recomendava ao mestre para dar uma folga a mais, por que os rapazes estavam a crescer e os sapatos deixavam de lhes servirem.
Nós não gostavamos muito dos números acima da medida que nos faziam parecer que tínhamos pés grandes e não nos ficavam muito bem, mas o meu pai tinha razão, pelo bem que faziam e nos permitiam usar meias de lã e ter os pés quentes durante as aulas.
Outra vivência que não esqueci relaciona-se com as camisas. Pela festa da aldeia, que é no primeiro domingo de agosto, era costume os rapazes e raparigas envergarem trajes novos. No ano em que apareceram as primeiras camisas de «terylene», eu e o meu irmão também acalentavamos uma ténue esperança de exibirmos cada um a sua, mas ficamos desiludidos quando a minha mãe, que era modista, nos começou a tirar as medidas para nos fazer uma camisa para cada um, mas de popelina. Em vão ainda tentamos convencer a nossa mãe de como as camisas de «terylene» ficavam bem, mas ela rápidamente nos fez ver que o novo tecido era menos confortável e que nas camisas de popelina podia dar-lhe uma folga, incluindo uma prega na manga para que nos servissem mais tempo por que estavamos a crescer. Mais tarde, quando começamos a usar as tais camisas de «terylene», convencemo-nos, de facto, que era só aparência, ficavam bem mas não faziam bem à saúde por que não deixavam respirar o corpo e tornavam-se muito quentes.
Era pelo exemplo que se educava e nos habituavamos a respeitar os mais velhos que nos transmitiam ensinamentos para a vida. O conhecimento era mais limitado, não havia a televisão, a rádio e os jornais eram privilégio de muito poucos, confinados aos centros urbanos, eram escassos ou inexistentes na província.
Na minha aldeia, só o tio do meu pai é que era assinante do jornal «O Comércio do Porto»,(resultado duma amizade com Bento Carqueja) que devido às limitações de acessibilidades e transportes, só passados dois dias é que chegava ao destinatário e, passado uma semana, por vezes, conseguíamos que nos emprestasse o jornal depois de o ter lido de «fio a pavio» e depois de ter passado pelos mais velhos lá da casa e amigos mais chegados.
Outro meio de comunicação que só na década de sessenta passou a existir na nossa aldeia  foi o telefone.  Só havia um público numa mercearia/ taberna que era pertença de um senhor que o meu pai não gostava muito, mas que respeitava. Dizia-se - à boca fechada - que era informador da Pide(bufo) e como tal era temido e, como dizia o meu pai – nem de bem nem de mal – não se devia hostilizar mas desconfiar. Quando fomos estudar para fora, por que na nossa vila só havia um colégio que lecionava até ao antigo 5.º ano do liceu, por vezes tínhamos necessidade de comunicar pelo telefone com os meus pais, o que só fazíamos em última necessidade. O meu pai por norma não ia atender a nossa chamada, quem o fazia era a minha mãe, mas a nossa conversa resumia-se a palavras muito lacónicas, por que não havia cabine telefónica. Schiuuummm!!! – dizia o dono do estabelecimento, mandando calar a assistência que se encontrava na taberna, os jogadores da sueca e outras pessoas que cavaqueavam, fazendo-se um silêncio que arripiava e intimidava quem falava ao telefone. A conversa era escutada pelos presentes e toda a aldeia ficava a saber, daí a pouco, que o filho de fulano telefonara de Lisboa a dizer ...
Nos dias de hoje, os meios de comunicação, condicionam e influenciam a educação, positiva e negativamente. As notícias entram-nos pela casa dentro à velocidade da luz e é necessário aferirmos e selecionarmos o positivo do negativo. É necessário um filtro que coe a sujidade das impurezas. Esse filtro deve ser feito por quem tem o dever de educar.
Aos pais, professores e duma forma geral a todos que teem um papel ativo na educação das crianças e dos jovens, cabe-lhes fazer a triagem dos conteúdos, separando o trigo do jóio, distinguindo as realidades das aparências - o bem que faz pelo bem que fica.
Viana do Castelo, 2011-12-10
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

OS MALES DA «MOVIDA»


Hoje, li no Jornal de Notícias, que a Câmara Municipal de Viana do Castelo, apoia a proposta apresentada à autarquia, para revitalizar os espaços onde outrora funcionou a fábrica de chocolates «A Vianense”. Parece que está nas intenções dos promotores do projeto a instalação de uma unidade hoteleira que faça relembrar a história daquela fábrica em que o chocolate seja o tema de enfoque. É uma boa notícia.
No mesmo jornal era abordado ainda outro tema que preocupa as populações residentes na área da Ribeira do Porto, onde a «movida» noturna, fomentada e autorizada pela Câmara do Porto, está a transformar aquela zona num pandemónio, onde é impossível viver com o ruído pela noite dentro, a sujidade e o total desrespeito pela lei. É uma má notícia.
Aparentemente estes dois temas antagónicos (boa/má notícia) nada teem em comum, quer pela temática quer geográficamente. Na verdade teem muito em comum. Uma unidade hoteleira deve, para além de outros requisitos, estar situada numa zona sossegada que possibilite aos hóspedes pernoitarem tranquilamente e no dia seguinte acordarem satisfeitos.
Ultimamente, na cidade de Viana do Castelo, foi permitido a instalação de bares noturnos em zonas onde já existiam unidades hoteleiras, prejudicando o repouso dos moradores e dos hóspedes que nos visitam e deixando as ruas pejadas de lixo.
Aos promotores deste projeto hoteleiro, digno de louvor, aqui fica o alerta. Arranjem antecipadamente a garantia que não vão ser autorizados bares noturnos nas proximidades da unidade hoteleira que pretendem implementar.
Viana do Castelo, 2011-11-02
Manuel de Oliveira Martins

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SINAIS DE RIQUEZA

Quando vemos alguém, de quem conhecemos bem a origem dos seus rendimentos escassos, fazer vida de rico, gastando mais do que ganha, estranhamos e desconfiamos. A este respeito, o povo costuma dizer,«quem  cabritos vende e cabras não tem de alguém lhe vem».
Quem foi à Madeira há vinte anos atrás e lá vai agora, estranha a evolução verificada nestas duas décadas e questiona como é que é possível fazer tanto com tão pouco que a ilha tem ou produz. De onde vem o rendimento para se fazer tantas estradas e túneis, tantos investimentos em portos e aeroportos, tantas infraestruturas questionáveis em eficácia e prioridade, a ponto de nesta pré-campanha eleitoral,  o atual presidente do Governo Regional e candidato ao cargo, se gabar de inaugurar um feito e meio por dia.
Quando existem regiões do país tão desiguais em acessibilidades – como é o caso de Bragança – onde só há dias foi inaugurado o primeiro troço de auto-estrada, que de nada lhe serve por agora enquanto não fôr construído o túnel do Marão, enquanto noutras regiões se constroem auto-estradas a duplicar, e noutras túneis de utilidade duvidosa, não esquecendo as desigualdades entre o interior e o litoral, enquanto o nível de vida do povo da Madeira está acima da média nacional, algo vai mal.
Não está em causa os madeirenses viverem bem, mas sim viverem à custa dos sacrifícios dos outros que injustamente estão a ser espoliados dos seus salários, pensões e poucos direitos que ainda teem, para pagarem a fatura que outros fizeram - à grande e à francesa - sem olhar de onde vem o dinheiro, apelando e invocando a solidariedade.
Há muito que os governantes continentais sabiam desta situação, pelo menos deviam desconfiar, por que conheciam as verbas e os orçamentos regionais, mas faltava-lhes a coragem política para desmascarar esta situação, e o senhor Alberto jogou e gozou com a cobardia deles, aproveitando-se da fraqueza, e revertendo em favor da região da Madeira o baú do tesouro que surpreendentemente encontrou sem nada  fazer para o conseguir.
Os madeirenses teem de estar gratos ao senhor Alberto – por isso teem votado e vão continuar a votar nele – por que lhes proporcionou um nível de vida, invejável para a maioria dos portugueses. O rácio dos madeirenses que teem emprego no Governo Regional cifra-se em 40%. Não existe nada comparável a nível mundial, pelo menos que eu conheça, a não ser nalgum país do terceiro mundo, onde não existe outra solução, por imperativos político-institucionais.
Estes sinais de riqueza não são exclusivos da Madeira nem do senhor Alberto, ainda há bem pouco tempo, na outra região insular, o senhor César, fazendo apanágio do adágio popular – a César o que é de César – resolveu dar aos funcionários públicos um bónus, em nome da insularidade e da solidariedade. Isto de dar aquilo que não é nosso, é típico de alguns que deteem o poder, e próprio  daqueles que não sabem o quanto custa angariar o fruto do trabalho honesto, muitas vezes com esforço e suor sub-humanos.
Pelo que me é dado observar, e pela análise que faço ao processo autonómico das regiões em causa, e atendendo ao  poder democráticamente consentido e conseguido através do voto das populaçóes residentes, beneficiárias do mesmo, a solução que melhor serve às partes é a autonomia completa e real. A defesa da coesão nacional é uma utopia, como está bem demonstrado através das recentes notícias do buraco escondido das contas da Madeira e das imposições salariais nos Açores.
Viana do Castelo, 2011-09-21
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com