terça-feira, 9 de junho de 2015

DEPRESSÕES


Vivemos numa época propícia à aquisição desta doença, que afeta os mais sensíveis, cuja vulnerabilidade psicológica não consegue suplantar-se aos cometimentos stressantes a que diariamente somos submetidos na nossa vida.
Contrariamente ao que deveria ser exigido aos candidatos a determinadas profissões, pilotos, condutores de transportes públicos, maquinistas de comboios e outros, que envolvem responsabilidades sobre seres humanos, nada é exigido sobre a condição psicotécnica do concorrente.
Para além do exame inicial de admissão à profissão é curial que anualmente o profissional seja submetido a um teste de saúde física (que alguns serviços aconselham), mas também psicológica ( que raramente é exigido).
Quando me candidatei ao exame de admissão para ingresso no Curso Elementar de Pilotagem na Escola Náutica (já lá vão 48 anos), fui submetido a três tipos de testes: 1 – Teste físico rigoroso feito por 5 médicos especialistas. Devíamos ir munidos de uma microrradiografia e uma declaração passada pelo Delegado de Saúde em como não sofríamos de qualquer doença infetocontagiosa. Este exame eliminou mais de metade dos candidatos; 2 – Um teste psicotécnico (tipo americano) que fez uma razia eliminando outra metade e, só por último, os restantes candidatos apurados nas duas eliminatórias foram sujeitos aos testes das disciplinas nucleares de matemática e física, no caso específico de Pilotagem. No final, dos 812 que iniciaram o concurso, para os quatro cursos então ministrados na Escola Náutica (Pilotagem, Máquinas Marítimas, Radiotecnia e Comissariado) foram apurados apenas 161, cerca de 20%.
Desde 1975 que as admissões para a Escola Náutica passaram a dispensar os dois primeiros testes, limitando-se ao exame das disciplinas nucleares de cada curso.
Apesar do decréscimo da Marinha Mercante (Comércio e Pesca) e especificamente não existirem paquetes (transporte de passageiros), a especificidade da profissão, que se desenrola num meio hostil como é o mar, sujeito às mais imponderáveis situações depressivas, defendo que os profissionais desta e doutras áreas, sujeitas a pressões constantes, devem ser submetidos a exames prévios de ingresso e periódicos ao longo da vida, para avaliar o estado físico e psicológico e não só a submissão a testes curriculares necessários para singrar na profissão.
Há fatores que modificam a nossa saúde e o nosso comportamento físico e psicológico ao longo da vida e que precisam ser detetados para tratamento. Recordo que no ano de 1972, desempenhava então as funções de oficial imediato de um navio de pesca, o «Tropical», que habitualmente fazia base na inesquecível cidade de Moçâmedes, numa das idas para descarregar pescada para os frigoríficos da ARAN (Associação dos Armadores de Pesca de Angola), que depois era transportada para a metrópole pelos navios frigoríficos «Transfrio» e «Baía de São Brás», da CNN (Companhia Nacional de Navegação), o Chefe de Máquinas dum outro navio de pesca, meu colega de curso e amigo, desabafou comigo que teve de desembarcar o 2.º Maquinista, devido ao comportamento dele na casa das máquinas não garantir a segurança da mesma, consequentemente do navio. O comportamento anormal do 2.º Maquinista devia-se ao estado alucinogénio provocado pelo consumo de canábis que foi encontrada no camarote do infeliz oficial maquinista. Foi mandado para a Metrópole para tratamento.
A tragédia que sucedeu recentemente com o avião da Germanwings deve ser um alerta para as autoridades aeronáuticas. Os governantes, a nível mundial, devem encontrar consensos no sentido de garantirem a segurança dos passageiros, sob pena da descredibilização do transporte aéreo. Em situação alguma o fator económico se pode sobrepor ao fator segurança, como em algumas situações se subentende que existiu alguma tentação para negligenciar.
Viana do Castelo, 27 de março de 2015

Manuel de Oliveira Martins
Publicado no jornal «A Aurora do Lima» n.º 15 em 2015-04-16

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