domingo, 24 de julho de 2011

RÉSTEAS DE ESPERANÇA

Há dias, não posso precisar qual, a meio da noite, acordei e não mais consegui conciliar o sono. Talvez o facto estivesse ligado com um recente tratamento hospitalar, a que fui submetido, ou não. Eu, que não sou muito amante de televisão, resolvi ligar para um dos canais televisivos noticiosos (SIC NOTÍCIAS), onde decorria uma entrevista a um grande senhor da indústria petrolífera, o Engenheiro Manuel Ferreira de Oliveira, CEO da GALP, recentemente considerado um dos mais importantes gestores desta área a nível mundial, na esperança de «chamar» o sono.
O entrevistador era o jornalista Santos Ferreira, especialista em temas económicos daquela estação televisiva. Apanhei a entrevista a meio, mas percebi que se tratava de dar a conhecer por dentro e por fora essa grande empresa energética nacional, o seu passado, presente e perspectivas futuras.
Dentro da parte final da entrevista, o que mais gostei de ouvir do Eng. Ferreira de Oliveira, foi a aposta da empresa na formação contínua dos seus quadros e, especialmente, quando se referiu que naquela tarde, antes da entrevista, tinha-se encontrado com um grupo de recém licenciados que entraram para a empresa, e verificado que todos eles se encontravam melhor preparados (também foram recrutados entre os melhores ), do que ele quando terminou o curso há 40 anos.
Mais adiante, o mesmo entrevistado, frisou que Portugal dispoe de um número bastante significativo de gente muito bem formada e qualificada,  pelas nossas universidades e institutos, que estão a ser cobiçados pelo estrangeiro, como recentemente delegações de países (Alemanha e Noruega –desconheço se mais algum), se deslocaram a Portugal, a Lisboa e Porto, para recrutar essa massa “cerebral” que uma vez nesses países, e bem orientada, vai constituir uma mais valia para o desenvolvimento desses mesmos países.
Fiquemos por aqui, por que este tema levaría-nos a muitas considerações.
No domingo, dia 16 de Julho, ainda a recuperar do tratamento a que fui submetido, casuísticamente, ao fazer pesquisa televisiva (recuso-me a usar o termo inglês – embora saiba que mais tarde ou mais cedo vai constituir um anglicismo da nossa língua), a mesma estação televisiva transmitia entre as 21 horas e as 21 horas e 40 minutos um documentário, integrado dentro do noticiário, sobre investigadores portugueses, que segui com toda a atenção. Abordava jovens cientistas desde a física, bioquímica,  química, química analítica, biologia, etc, jovens com idades compreendidas entre os trinta  e trinta e seis anos, que estão a desenvolver e a pesquisar nos laboratórios das instituições em que estão inseridos, projectos inovadores e úteis à humanidade, como a descoberta do genoma das células cancerígenas (que me interessa particularmente), perspetivando a cura  e prevenindo a doença.
Outro projecto, que levou um jovem cientista em química analítica a declinar duas ofertas no estrangeiro e a permanecer numa universidade portuguesa, baseava-se na descoberta de um material novo que vai permitir, a uma empresa de renome mundial, dinamizar um projecto inovador que vai revolucionar a indústria informática.
São, como vemos, perspectivas de esperança, latentes no nosso país, que precisamos aproveitar.
O investimento, que durante estes trinta e poucos anos de democracia (apesar de quase insignificante), está a dar os seus frutos. Não estamos em condições de os desperdiçar. O país precisa deles. Estes investimentos culturais, não são imediatos, nem palpáveis ou quantificáveis, eles constituem uma riqueza incomparável, que é preciso aumentar, estimular e acarinhar.
Fiquei triste, no final, quando vários deles referiram as dificuldades por que passaram durante 10 a 12 anos, para chegarem ali, valendo-lhe, na maior parte, a ajuda dos pais e familiares. Só ao fim desses longos anos de estudo e trabalho, tiveram o primeiro contrato e puderam fazer o primeiro desconto para a Segurança Social. Muitos deles não puderam constituir vida familiar, abdicando desse direito de todo o ser humano, por que as condições económicas não lhe permitiam. Um deles referiu que existe nos jovens licenciados a sair das universidades portuguesas, matéria prima de melhor qualidade que em algumas universidades estrangeiras, que não está a ser aproveitado por falta de condições económicas, de mecanismos de apoio, que estimulem os recém licenciados, a enveredar pela área de investigação. A falta de carinho, o reconhecimento, pelo trabalho desenvolvido, são outros fatores a ter em conta.
É necessário apostar na massa cinzenta do nosso país. É neccessário dar-lhes condições para crescer. É necessário legislar nesse sentido. O mundo desenvolve-se a um rítmo alucinante. Não podemos perder a rota que conduz ao futuro, iluminemo-nos com os nossos avós, que não descansaram  enquanto não descobriram o caminho marítimo para a Índia.